Por Reinaldo Glioche
Vencedor do prêmio César de Melhor Filme Internacional em 2024 e destaque na mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes 2023, o longa canadense “A Natureza do Amor” se resolve em torno de uma investigação acerca das circunstâncias do amor. Para isso, a cineasta Monia Chokri (“Babysitter”) submete sua protagonista Sophia (a ótima Magalie Lépine Blondeau) a um olhar problematizante que recebe intervenções de grandes filósofos – de Platão a Thoreau – sobre o amor.
Superficialmente, “A Natureza do Amor” é mais um longa a tergiversar sobre o desejo da mulher madura de classe média, mas a ambição do longa é mais ampla e profunda. Parte daí a ideia de angular a jornada de sua protagonista com o contraponto das muitas leituras que filósofos fazem do amor. Sophia é professora de filosofia, uma solução para deixar as intervenções dramatúrgicas intradiegéticas.
Em uma das primeiras cenas do filme, ela e seu namorido, com quem não compartilha a cama, comentam sobre um casal de amigos que briga constantemente e também faz sexo com frequência. “Eu preferia não brigar”, observa Xavier (Francis-William Rhéaume). É a epítome da vida conjugal morosa e sem brilho de Sophia, que está à beira dos 40 anos.
Quando ela conhece o empreiteiro Sylvain (Pierre-Yves Cardinal), que vai reformar a casa no campo do casal, a atração se impõe. Ele é o oposto dela. Rústico, bronco, ingênuo e conservador. Ele é o tipo de homem que fica excitado apenas com o cheiro da mulher, como Chokri faz questão de registrar em uma das fortuitas transas do casal.
A cineasta, porém, está mais interessada em desconstruir – para se necessário reafirmar – clichês a partir dessa relação fulminante. É possível amar alguém tão diferente? As elaborações filosóficas então são postas à prova à medida que aquela relação vai evoluindo e se tumultuando. Sophia parece mais livre e tátil com seus desejos e anseios ou seria apenas a percepção da audiência? Esse é outro trunfo da realização, que introjeta certa lógica de romance em um filme que não sustenta esse objetivo.
São elementos que ajudam a entender o apreço pela obra de Chokri na França, onde foi bastante celebrado, o que reforça outro clichê sobre a liberalidade com que os franceses enxergam e tratam as coisas do amor. Pelo menos no cinema.
“A Natureza do Amor”, eventualmente, permite à sua protagonista o desfecho desejável, o que banaliza em certa medida as elucubrações que o antecede, mas isso não arranha a credibilidade de um filme que propõe muito a partir de uma dinâmica exaurida.