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Filha de David Cronenberg estreia como cineasta com misto de sátira e terror em “Humane”

Por Reinaldo Glioche

A família Cronenberg não ostenta o mesmo prestígio dos Coppola em Hollywood, mas é um clã tão talentoso quanto. Após a boa largada na carreira como cineasta de Brandon Cronenberg em filmes como “Possessor” (2020) e ‘Piscina Infinita” (2023), Caitlin, outra filha de David, estreia com “Humane”, um filme engenhoso com uma agenda ambiental muito bem defendida por um misto de sátira social e terror.

Caitlin mostra talento como contadora de história e o gosto pela estranheza e pelo incomum de seu pai. Sob muitos aspectos, sua estreia como cineasta se dá em um projeto mais difícil e ambicioso do que o de seu irmão, Brandon em 2012 com “Antiviral”.

Cena do filme Humane
Foto: Divulgação

Em um futuro próximo, a humanidade enfrenta o colapso climático e ambiental e precisa reduzir a população em 20%. Um programa do governo alista pessoas dispostas a praticar a eutanásia e paga uma indenização aos familiares. Neste contexto, somos convidados a um jantar de família em que o pai (Peter Gallagher), um ex-âncora de TV, quer comunicar aos filhos, com os quais não necessariamente se dá bem, que ele irá participar do programa de eutanásia. O jantar, no entanto, sai dos trilhos muito rapidamente.

Aos poucos, “Humane” vai adquirindo contornos de horror e mergulha seus protagonistas em um dilema profundo que, de certa maneira, reflete muitas das mazelas sociais com as quais lidamos. Revela também muito da nossa natureza humana. A sátira social – e o humor surge aqui como uma baliza valorosa – é uma bússola para o roteiro, que perde viço no terço final, mas a direção de Caitlin Cronenberg mantém o suspense em elevação.

Outra curiosidade do longa é a presença de dois atores muito identificados à comédia, Jay Baruchel e Emily Hampshire, da série “Schitt´s Creek”, que vem se experimentando com mais frequência em projetos dramáticos. São os dois atores que respondem pelo swing entre humor e espanto no curso do longa. São os personagens mais complexos da trama e que, de alguma maneira, a levam adiante.

“Humane” é uma estreia promissora para Caitlin. Um filme que articula ótimas ideias partindo de uma premissa curiosíssima e que recorre ao gore não como um fim, mas como um meio de potencializar dramaticamente sua narrativa. É um aspecto que parece desimportante, mas revela uma cineasta atenta à gramática cinematográfica e sensível à sua dialética.

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