Filme estrelado por Kristen Stewart ostenta proposta estética ousada e flui por diversos gêneros. “Love Lies Bleeding – O Amor Sangra” é cinema que já nasce cult
Por Reinaldo Glioche
Depois de uma recepção calorosa no festival de Sundance, “Love Lies Bleeding – O Amor Sangra” chega ao circuito comercial já com a pecha de filme cult. A despeito da presença de Kristen Stewart e da chancela do estúdio A24, que ajudam a pavimentar esse status, o longa de Rose Glass, do ótimo “Saint Maud” (2019) tem muitos outros predicados.
Trata-se de um longa que flui por gêneros como romance, thriller, fantasia e terror sem nunca perder sua verve narrativa. A estética é salutar e vai muito além dos tons de neon, da música que tão bem adorna o drama e da câmera muito interessada nos corpos dos personagens e na maneira como eles respondem aos olhares.
A trama vai se revelando aos poucos e ganhando contornos de um thriller pulp daqueles que o cinema atual parece ter desaprendido. A tímida Lou (Stewart) é a gerente de uma academia que se apaixona pela forasteira Jackie, a excelente Katy O´Brien, que está apenas de passagem pela cidade já que sonha em competir em um concurso de fisiculturismo em Las Vegas.
O elemento queer, que serve naturalmente como um polo de atração, é mais um aspecto a reforçar o dinamismo narrativo de um filme que não tem medo de fustigar, de provocar. Glass e a co-roteirista Weronika Tofilska mesclam referências de filmes de máfia para desembocar em um road movie romântico passando pelo body horror. É uma trip e tanto!
Tecnicamente arrojado, “Love Lies Bleeding” se alimenta dramaturgicamente de um amor destinado à tragédia e a imprevisibilidade dentro desse arquétipo narrativo potencializa os efeitos do filme.
O pai de Lou, vivido com energia soturna por Ed Harris, é um gangster que controla a cidade. Lou já queria ter ido embora, mas fica por conta da irmã (Jena Malone), que apanha do marido (Dave Franco), mas não quer largá-lo. É nessa dinâmica conturbada que Jackie, que também carrega seus fantasmas, se insere. O longa trabalha muito bem as elipses narrativas a favor da irrigação dos conflitos expostos e a realização faz a escolha feliz de recepcionar o realismo fantástico para dar conta de tanta miséria.
“Love Lies Bleeding” é um filme corajoso nos seus arranjos estéticos e potente na sua estruturação narrativa. É cult pela love story lésbica, pela A24, mas também por ser uma força criativa ímpar em uma era de cinema pasteurizado.