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O peso da existência move o delicado e naturalista “Névoa Prateada”

Por Reinaldo Glioche

Cena do filme "Névoa Prateada"
Foto: Divulgação

 Franky, a excepcional Vicky Knight, é uma enfermeira de 23 anos que vive com a família em um bairro no leste de Londres. Obcecada por vingança e com a necessidade de encontrar culpados por um acidente traumático ocorrido há 15 anos, que a deixou com queimaduras que invariavelmente afetam sua autoestima, ela é incapaz de se envolver em um relacionamento afetivo com alguma profundidade. Isso até conhecer Florence (Esmé Creed-Miles), uma garota que ficou sob seus cuidados após uma tentativa de suicídio.

Renegada pela família por conta da relação homossexual, ela vai viver temporariamente com a família de Florence, que é uma família postiça, em que todos os membros têm suas chagas e cicatrizes, sejam elas emocionais, físicas ou psicológicas.

O longa da holandesa Sacha Polak, que integrou a mostra Panorama do Festival de Berlim em 2023, de onde saiu com o prêmio Teddy, outorgado a filmes com temática LGBTQIA+, aposta no registro naturalista – muito dos atores são amadores – para falar do peso da existência. Da dificuldade de se vulnerabilizar em um mundo em constante ebulição.

Embora haja certo descompasso narrativo, as atuações cruas compensam e a despeito do trânsito de personagens que surgem como almas penadas que se esbarram em busca de algum sentir, o filme ganha força emocional quando foca em Franky, que Vicky Knight consegue tangenciar com ternura e brutalidade em uma composição tão nuançada que só parece possível, considerando sua incipiência na arte de interpretar, pelos elementos autobiográficos que sua personagem carrega.

“Névoa Prateada” não é um filme que espetaculariza os conflitos emocionais de suas personagens e em virtude dessa escolha acaba alienando parcela do público, mas é essa escolha que legitima a observação que faz das dores, conscientes e inconscientes, que unta figuras perdidas de si e do todo.

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