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“Duna”, de David Lynch, é um grandioso fracasso que tem seu valor

Tom Leão

No mesmo ano em que “Duna: Parte 2”, de Dennis Villeneuve, chega às telonas, a primeira versão para cinema baseada na densa obra de Frank Herbert, “Duna” (1965), completa 40 anos. Dirigida por David Lynch (então um novato, em seu terceiro longa, após “Eraserhead” e “O Homem Elefante”) o filme sofreu por sérios problemas de roteiro, para tentar fazer caber tudo em menos de duas horas e meia de duração (quando o lógico, seria, pelo menos, três horas ou ser lançado em duas partes).

Por isso, Lynch, roteirista e diretor da super produção Dino De Laurentiis (custou cerca de US$$40 milhões e faturou $38mi), disse que considera este filme o maior fracasso de sua carreira (nem tanto, ‘Duna’ estreou em segundo lugar nas bilheterias norte-americanas e faturou mais do que todos os filmes de Lynch somados). Até hoje, ele se nega a falar sobre, recusou comentar na faixa do DVD com a edição especial (chamado ‘Dune: Extended Edition’, que saiu sem o nome dele nos créditos, trocado para Alan Smithee, pseudônimo muito usado em Hollywood). Lynch afirmou que revisitar o filme seria uma má experiência, porque ele não teve direito ao corte final.

Um jovem David Lynch no set de “Duna” | Fotos: Divulgação

 A propósito, Lynch esclareceu que um director’s cut é impossível de ser lançado, já que Dino de Laurentiis nunca permitiu que ele gravasse cenas da maneira que quisesse ou filmasse mais tomadas do que o necessário. Apesar disso, o tal DVD com cenas a mais (o citado acima), na verdade, veio de uma versão feita para TV, com três horas, com cenas que ficaram de fora do corte original (tenho essa edição que, inclusive, foi lançada no Brasil). Apesar do fracasso comercial nos cinemas (não se pagou), com o tempo, “Duna” ganhou status de cult e foi sendo redescoberto. Em comparação com os dois filmes atuais (será uma trilogia), o de Lynch se destaca pela belíssima fotografia, cenografia e até mesmo pelos efeitos especiais. Sem contar que foi rodado no espetacular sistema 70 milímetros (o iMax da época). Foi assim que o assisti, no majestoso cinema Metro, na Cinelândia carioca, e também no extinto cine Comodoro, no centro de São Paulo.

  Assim como elenco da produção atual traz nomes estelares, como Timothée Chalamet (que faz Paul Atreides, que, no livro, está na casa dos 14, 15 anos, Chalamet tem 27 anos, mas parece ser mais jovem do que é), Zendaya (Chani), Rebecca Ferguson (Lady Jessica Atreides), Oscar Isaac (Duque Leto Atreides), Jason Momoa (Duncan Idaho), Josh Brolin (Gurney), Javier Bardem (Stilar), Dave Bautista (Rabban), e outros nomes que entraram na parte dois, como Léa Seydoux, Florence Pugh e Austin Butler (o ‘Elvis’), o filme de 1984 trazia Kyle McLachlan (estreando no cinema, que, em seguida, faria “Veludo Azul” e o agente Cooper em “Twin Peaks”, de Lynch), como Paul; Virginia Madsen (Princesa Irulan, que explica a confusa trama na abertura), Francesca Annis (Lady Jessica), Patrick Stewart (o futuro Capitão Picard, da nova geração de “Star Trek”), Sting (ele mesmo, o do Police, como o bad boy Feyd-Rautha), Sean Young (pós-“Blade Runner”), como Chani (meio apagada); e alguns favoritos de Lynch, como Jack Nance (o próprio Eraserhead!), Everet McGill e Dean Stockwell, além de Alicia Witt, fazendo a irmã de Paul, que, na nova saga, é feita por Anya Taylor-Joy.

  Na parte da trilha sonora, o tema principal foi feito por Brian Eno. Mas, todo o resto da trilha, foi composta pela improvável banda americana Toto! Outra curiosidade é que, antes de “Duna” ter ido parar nas mãos de Lynch, ele tinha sido oferecido a Ridley Scott (pós-‘Alien’ e antes de “Blade Runner”, que preferiu fazer); e, nos anos 1970, Alejandro Jodorowsky, já tinha todo o filme pensado e elenco escalado (além de visual a cargo de Moebius), mas não conseguiu financiamento. Lynch, aliás, seria o diretor da parte final da trilogia original “Star Wars: o retorno de Jedi”. Mas, recusou este, por ter achado que não era ‘a sua cara’.

Duna
Sting em cena do filme

  Curiosamente, o “Duna” de Lynch só foi feito por causa do estrondoso sucesso de “Star Wars” (assim como aquele “Flash Gordon” divertido e cafona). Enquanto que, “Star Wars”, só existe por causa, entre outras referências de George Lucas, pelos seriais de “Flash Gordon” e dos livros “Duna”, de Frank Herbert (que, por sua vez, disse ter sido inspirado a escrever o livro depois de assistir ao épico arenoso “Lawrence da Arábia”). Particularmente, apesar das imperfeições, gosto mais do filme do Lynch. Diferentemente dos ‘limpinhos’ do Villeneuve, o de Lynch tem o toque do diretor, um certo senso de perigo, de bizarria, é mais ‘sujo’, e os personagens são mais dimensionados. Fico imaginando como teria sido a sua versão, o seu corte do diretor. Certamente, teria sido muito melhor.

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