Tom Leão
No começo do mês de janeiro, o canal HBO Signature exibiu, durante uma semana, todas as seis temporadas de “Família Soprano” (‘The Sopranos’), para comemorar os 25 anos da série. Fiquei uns dias de cama, com piriri, e acabei (re) vendo grande parte dessa maravilha da TV moderna, criada por David Chase, que quis se aprofundar mais na máfia nova-iorquina, inspirado em “Os bons companheiros”, de Martin Scorsese (com o qual divide cerca de 27 atores do cast!). Agora, o serviço de streaming HBO MAX está com toda a série em destaque.
Contudo, tudo começou da pior forma possível. Chase achava que, fazer uma versão para TV de mafiosos, a la ‘Poderoso Chefão’, era uma má ideia. A princípio, ele pensava em fazer apenas um longa para cinema. Mas, meio a contragosto (convencido pelo produtor Brad Grey), escreveu o piloto para a HBO. Para não ser mais um ‘programa de máfia’, teve a sacada de fazer um drama familiar com a máfia como fundo, usando um chefão com crise de ansiedade que procura ajuda com um psicanalista. Imaginou que isso daria uma temporada. E, bastaria.
Como bem sabemos, não foi o que aconteceu. Já que, apesar de não ter sido um estouro logo de cara, não apenas o piloto foi aprovado, como a primeira temporada (com 13 episódios), lançada em janeiro de 1999, foi bem o bastante para continuar.
Parte do sucesso, deve-se aos personagens e escalação do elenco. O tipo principal, o mafioso Tony Soprano, era vital para que a série tivesse sustentação. Foi interpretado de forma tão natural e brilhante pelo falecido James Gandolfini (que vinha realmente de uma família italiana de New Jersey), que conquistou a todos imediatamente. Chase diz que, quando o viu nos testes, soube, na hora, que só ele poderia fazer Tony, pelo modo como falava e andava. Gandolfini nasceu para o papel.
Isso é um dos grandes trunfos de “Família Soprano”: os atores/personagens, são muito realistas. Em parte, porque o elenco é quase todo composto por atores ítalo-americanos, pouco conhecidos (Lorraine Bracco, que faz a dra. Melfi, psicóloga de Tony, era das poucas que já tinha algum background, teve papel de destaque, em ‘The Goodfellas’), o que evita tipos caricatos. Aliás, grande parte do elenco de apoio é composto de verdadeiros tipos suspeitos envolvidos com a lei. David Chase e os produtores de “Família Soprano” trabalharam com o consultor Dan Castleman para entender como a máfia real ganhava dinheiro e como seus integrantes agiam.
Outra coisa bacana na série, é o senso de família, já que ‘máfia’, também tem essa conotação, em italiano. Tony tem sérios problemas com sua mãe (que sempre o considerou o filho menos inteligente), passa a ter ataques de pânico depois que vira o chefão (daí procurar a psiquiatra, a contragosto) e, como todo pai de família, tem problemas também com seus filhos – menos com a filha mais velha, Meadows, mais com o júnior — e com sua mulher Carmela (feita pela espetacular Edie Falco). Ele a trai com várias mulheres (um dos negócios da famiglia, é um club de strippers, o Bada Bing!), mas sempre volta para a única pessoa que realmente o entende. E em quem ele confia.
Na parte musical, o tema de abertura do Alabama 3, ‘Woke up this morning’, é marcante. E, nos desfechos de episódios, sempre um clássico do cancioneiro pop americano de todos os tempos. Porque Chase, como Scorsese, é fanático por blues, jazz, R&B e rock. Um dos personagens principais, da gangue de Tony, o incrível Silvio, é feito por ninguém menos do que Steven van Zandt, que é ‘apenas’ o guitarrista da banda de Bruce Springsteen, o notório Little Steven! Aliás, a esposa de Silvio, é feita pela esposa de Van Zandt na vida real, Maureen.
De resto, a série brilha, por mostrar aquela gente, sem o menor glamour, como realmente são: mal educados, cafonas, grossos e violentos (apesar disso, não há muitas cenas de ação). O que torna ainda mais fácil do telespectador se apaixonar por tipos como Chris (sobrinho de Tony, feito por Michael Imperioli), sua namorada Adriana (Drea de Matteo), o ranzinza tio Junior (Dominic Chianese) e os capangas, com destaque para o destemperado Paulie (Tony Sirico). Tão bons, que você se apega a eles. Como se fossem da família!