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Retrospectiva: as melhores e piores séries de 2023

Edson Aran

Boa noite, senhoras e senhores.

Bem-vindos às suntuosas instalações da Academia Tiririca de Artes e Ciências Audiovisuais para a entrega do 377º Prêmio Aran de Melhores Séries e Filmes de 2023.

Solicitamos à audiência que não suba ao palco para agredir os apresentadores. Os eventuais cancelamentos devem ser realizados apenas depois da cerimônia no “X”, o microblog anteriormente conhecido como Prince. 

E vamos à primeira categoria da noite.

Prêmio “Pare! Pare! Eu confesso! Pare!”

Nessa categoria nós homenageamos as séries intermináveis que ninguém mais aguenta ver. Mas que, ainda assim, soltam filmes novos todo ano para contar a mesma história de sempre. O público gosta de previsibilidade e piada velha, nós sabemos, mas a coisa já está passando dos limites.

Os indicados na categoria “Pare! Pare! Eu confesso! Pare!” são:

– “John Wick 4: Baba Yaga”

– “Missão impossível 7: Acerto de Contas Parte 1”

– “Velozes e Furiosos 10”

– “Os Mercenários 4”

E o Globo de Ouro vai para… “John Wick 4: Baba Yaga”. Palmas para ele! Keanu Reeves é o único cara que fica cool com terninho preto de crente e cabelo sujo ensebado. A série, que também rendeu um spin off, “O Continental” (PrimeVideo), se passa num universo distorcido onde escolas de balé treinam assassinas e sushimen são ninjas disfarçados. Os filmes são malucos, divertidos e redefiniram o gênero ação para o século 21. Lá vem spoiler! “John Wick 4: Baba Yaga” leva o prêmio porque o protagonista morre no final, o que é ótimo. Senão vira o Vin Diesel que não larga o osso e nem o volante. “It’s about the family”. É nada. “It’s about the boletos”.

Prêmio “Casa Sem Ideias”

Quando a Marvel era apenas uma editora de quadrinhos, Stan Lee a chamava de “Casa das Ideias”. Era uma provocação à concorrência, claro. As outras apenas publicavam revistas; a Marvel, não. A Marvel desenvolvia ideias, criava conceitos, elaborava narrativas. E isso foi verdade durante muito tempo, até a Disney comprar a marca e impor sua mão pesada. Não é nem o caso de criticar os roteiros fracos, os personagens mal desenvolvidos e as produções mambembes. O único objetivo da empresa é vender bonequinhos de super-heróis para meninas de 10 anos. Um belo problema para os marqueteiros da casa, já que as meninas de 10 anos preferem comprar Barbies. Mas isso é com eles. Aqui nós vamos apenas escolher o melhor entre os piores.

Os indicados na categoria “Casa sem Ideias” são:

“Homem formiga e Vespa: Quantumania”

“As Marvels”

“Loki 2”

“Guardiões da Galáxia Volume 3”

“Invasão Secreta”

E o Oscar vai para… “Guardiões da Galáxia Volume 3”, êêêêê. O filme não é tão bom quanto o primeiro, mas está no nível do segundo. A vantagem é que não tem o canastrão do Jonathan Majors fazendo biquinho, o que já é um alívio. O diretor James Gunn trocou a Marvel pela DC, então as coisas talvez melhorem no universo vizinho. Vamos torcer.

Mas se você ainda gosta de super-heróis, dê uma chance ao que realmente presta:

O live action “Gen V”, spin off de “The Boys”, e a animação “Invincible”, criação de Robert Kirkman (o mesmo de “The Walking Dead”). Ambos estão no PrimeVideo.

Prêmio Babá do Ano

O pai disfuncional e incompetente obrigado a cuidar de uma criança chata é um dos novos clichês da moderna Hollywood. De vez em quando, acontece até um “gender swap” e o pai vira mãe.

Os indicados na categoria “Babá” do Ano são:  

– Pedro Pascal pageando Bella Ramsey em “The Last of Us”

– Pedro Pascal trocando as fraldas do Baby Yoda em “Mandaloriano 3”

– Phoebe Waller Bridge dando papinha pro Harrison Ford em “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”

– Rosario Dawson indecisa entre dar umas palmadas ou se trancar no quarto com Natasha Liu Bordizzo em “Ahsoka”

– Jason Schwartzman descuidando dos filhos pentelhos em “Asteroid City”

E o Critics’ Choice Award vai para… Pedro Pascal, a melhor Mary Poppins do cinema. Ele é tão bom nisso que dá colinho até pro Ethan Hawke no western gay “Estranha forma de vida”.

Prêmio “Matou o roteirista e foi ao cinema”

Ninguém precisa de personagens complexos e tramas mirabolantes quando pode fazer um longo infomercial disfarçado de ficção. Este ano tivemos produções sobre joguinho de computador, tênis de basquete, cubículo de escritório e até “porcaritos”.

E os indicados na categoria “Matou o roteirista e foi ao cinema” são:

– “Tetris” (história daquele jogo de computador)

– “BlackBerry” (história daquele trambolho eletrônico)

– “Air: A história por trás do logo” (história de tênis pra jogar basquete)

– “WeCrashed” (história do WeWork)

– “Flamin’hot: O sabor que mudou a história” (História do Cheetos)

E o Golden Globe vai para… “Tetris”. Por incrível que pareça, o filme funciona. Tetris foi criado na antiga União Soviética, o que dá um sabor especial de Guerra Fria à história do joguinho.

Prêmio “O Melhor do ano”

Finalmente, chegamos ao grande momento dessa noite mágica e especial. Aqui estão os filmes que são realmente bons, sem subterfúgios ou truques de marketing. São produções dos mais diversos gêneros, mas com uma característica em comum: todas conseguem ser ligeiramente autorais numa indústria cada vez mais impessoal.

Apenas uma dessas obras vai levar para casa o cobiçado troféu de “Melhor do Ano”. Rufem os tambores.

Os indicados são: 

“Ruim Pra Cachorro”

“A incrível história de Henry Sugar”

“Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”

“Os Fabelmans”

‘Barbie”

“Oppenheimer”

“Assassinos da lua das flores”

E o Prêmio de Melhor Filme do Ano vai para… “Barbie”.

Hã?! Como assim?! Trocaram o envelope? Não é possível! Esses caras estão bêbados!

Sim, entendo a relutância da plateia. No entanto, “Barbie” não é apenas um gigantesco fenômeno de bilheteria, mas também um filme surpreendentemente inteligente. O roteiro de Greta Gerwig e Noah Baumbach critica não apenas o machismo tosco, mas também a utopia feminista das Barbies de classe média. Tudo é deliciosamente exagerado, satiricamente excessivo e saborosamente divertido. Isso tudo num filme sobre uma boneca da Mattel! Fala sério. E ainda tem a Margot Robbie, que é sempre linda de se ver, mesmo em filmes muito ruins, o que não é o caso. Parabéns, Greta. Me liga, Margot.  

E essa foi a 587ª cerimônia do Prêmio Aran de Artes e Ciências Audiovisuais 2023. Cuidado na saída no teatro. Tem um arrastão na rua da frente e uma mina de sal afundando na rua de trás. Boa noite.

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