Edson Aran
Boa noite, senhoras e senhores.
Bem-vindos às suntuosas instalações da Academia Tiririca de Artes e Ciências Audiovisuais para a entrega do 377º Prêmio Aran de Melhores Séries e Filmes de 2023.
Solicitamos à audiência que não suba ao palco para agredir os apresentadores. Os eventuais cancelamentos devem ser realizados apenas depois da cerimônia no “X”, o microblog anteriormente conhecido como Prince.
E vamos à primeira categoria da noite.
Prêmio “Pare! Pare! Eu confesso! Pare!”
![](https://culturizese.com.br/wp-content/uploads/2023/12/Premios-706x1024.jpg)
Nessa categoria nós homenageamos as séries intermináveis que ninguém mais aguenta ver. Mas que, ainda assim, soltam filmes novos todo ano para contar a mesma história de sempre. O público gosta de previsibilidade e piada velha, nós sabemos, mas a coisa já está passando dos limites.
Os indicados na categoria “Pare! Pare! Eu confesso! Pare!” são:
– “John Wick 4: Baba Yaga”
– “Missão impossível 7: Acerto de Contas Parte 1”
– “Velozes e Furiosos 10”
– “Os Mercenários 4”
E o Globo de Ouro vai para… “John Wick 4: Baba Yaga”. Palmas para ele! Keanu Reeves é o único cara que fica cool com terninho preto de crente e cabelo sujo ensebado. A série, que também rendeu um spin off, “O Continental” (PrimeVideo), se passa num universo distorcido onde escolas de balé treinam assassinas e sushimen são ninjas disfarçados. Os filmes são malucos, divertidos e redefiniram o gênero ação para o século 21. Lá vem spoiler! “John Wick 4: Baba Yaga” leva o prêmio porque o protagonista morre no final, o que é ótimo. Senão vira o Vin Diesel que não larga o osso e nem o volante. “It’s about the family”. É nada. “It’s about the boletos”.
Prêmio “Casa Sem Ideias”
Quando a Marvel era apenas uma editora de quadrinhos, Stan Lee a chamava de “Casa das Ideias”. Era uma provocação à concorrência, claro. As outras apenas publicavam revistas; a Marvel, não. A Marvel desenvolvia ideias, criava conceitos, elaborava narrativas. E isso foi verdade durante muito tempo, até a Disney comprar a marca e impor sua mão pesada. Não é nem o caso de criticar os roteiros fracos, os personagens mal desenvolvidos e as produções mambembes. O único objetivo da empresa é vender bonequinhos de super-heróis para meninas de 10 anos. Um belo problema para os marqueteiros da casa, já que as meninas de 10 anos preferem comprar Barbies. Mas isso é com eles. Aqui nós vamos apenas escolher o melhor entre os piores.
Os indicados na categoria “Casa sem Ideias” são:
“Homem formiga e Vespa: Quantumania”
“As Marvels”
“Loki 2”
“Guardiões da Galáxia Volume 3”
“Invasão Secreta”
E o Oscar vai para… “Guardiões da Galáxia Volume 3”, êêêêê. O filme não é tão bom quanto o primeiro, mas está no nível do segundo. A vantagem é que não tem o canastrão do Jonathan Majors fazendo biquinho, o que já é um alívio. O diretor James Gunn trocou a Marvel pela DC, então as coisas talvez melhorem no universo vizinho. Vamos torcer.
Mas se você ainda gosta de super-heróis, dê uma chance ao que realmente presta:
O live action “Gen V”, spin off de “The Boys”, e a animação “Invincible”, criação de Robert Kirkman (o mesmo de “The Walking Dead”). Ambos estão no PrimeVideo.
Prêmio Babá do Ano
O pai disfuncional e incompetente obrigado a cuidar de uma criança chata é um dos novos clichês da moderna Hollywood. De vez em quando, acontece até um “gender swap” e o pai vira mãe.
Os indicados na categoria “Babá” do Ano são:
– Pedro Pascal pageando Bella Ramsey em “The Last of Us”
– Pedro Pascal trocando as fraldas do Baby Yoda em “Mandaloriano 3”
– Phoebe Waller Bridge dando papinha pro Harrison Ford em “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”
– Rosario Dawson indecisa entre dar umas palmadas ou se trancar no quarto com Natasha Liu Bordizzo em “Ahsoka”
– Jason Schwartzman descuidando dos filhos pentelhos em “Asteroid City”
E o Critics’ Choice Award vai para… Pedro Pascal, a melhor Mary Poppins do cinema. Ele é tão bom nisso que dá colinho até pro Ethan Hawke no western gay “Estranha forma de vida”.
Prêmio “Matou o roteirista e foi ao cinema”
Ninguém precisa de personagens complexos e tramas mirabolantes quando pode fazer um longo infomercial disfarçado de ficção. Este ano tivemos produções sobre joguinho de computador, tênis de basquete, cubículo de escritório e até “porcaritos”.
E os indicados na categoria “Matou o roteirista e foi ao cinema” são:
– “Tetris” (história daquele jogo de computador)
– “BlackBerry” (história daquele trambolho eletrônico)
– “Air: A história por trás do logo” (história de tênis pra jogar basquete)
– “WeCrashed” (história do WeWork)
– “Flamin’hot: O sabor que mudou a história” (História do Cheetos)
E o Golden Globe vai para… “Tetris”. Por incrível que pareça, o filme funciona. Tetris foi criado na antiga União Soviética, o que dá um sabor especial de Guerra Fria à história do joguinho.
Prêmio “O Melhor do ano”
Finalmente, chegamos ao grande momento dessa noite mágica e especial. Aqui estão os filmes que são realmente bons, sem subterfúgios ou truques de marketing. São produções dos mais diversos gêneros, mas com uma característica em comum: todas conseguem ser ligeiramente autorais numa indústria cada vez mais impessoal.
Apenas uma dessas obras vai levar para casa o cobiçado troféu de “Melhor do Ano”. Rufem os tambores.
Os indicados são:
“Ruim Pra Cachorro”
“A incrível história de Henry Sugar”
“Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”
“Os Fabelmans”
‘Barbie”
“Oppenheimer”
“Assassinos da lua das flores”
E o Prêmio de Melhor Filme do Ano vai para… “Barbie”.
Hã?! Como assim?! Trocaram o envelope? Não é possível! Esses caras estão bêbados!
Sim, entendo a relutância da plateia. No entanto, “Barbie” não é apenas um gigantesco fenômeno de bilheteria, mas também um filme surpreendentemente inteligente. O roteiro de Greta Gerwig e Noah Baumbach critica não apenas o machismo tosco, mas também a utopia feminista das Barbies de classe média. Tudo é deliciosamente exagerado, satiricamente excessivo e saborosamente divertido. Isso tudo num filme sobre uma boneca da Mattel! Fala sério. E ainda tem a Margot Robbie, que é sempre linda de se ver, mesmo em filmes muito ruins, o que não é o caso. Parabéns, Greta. Me liga, Margot.
E essa foi a 587ª cerimônia do Prêmio Aran de Artes e Ciências Audiovisuais 2023. Cuidado na saída no teatro. Tem um arrastão na rua da frente e uma mina de sal afundando na rua de trás. Boa noite.