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Fim do Star+ indica afunilamento na guerra dos streamings

Reinaldo Glioche

A Disney anunciou nesta semana que descontinuará sua plataforma de streaming no Brasil, o Star+, em 2024. O conteúdo será integrado ao Disney+, inclusive os esportes ao vivo da ESPN. Esse era um movimento esperado em face do acirramento na competição entre os streamings e o reiterado prejuízo no modelo de negócio. A ideia ganhou ainda mais força quando a Disney anunciou a aquisição total do Hulu nos EUA.

A reestruturação do setor de streaming da Disney em todo o mundo remete à necessidade de diminuir gastos e tornar a operação solvente. A empresa, inclusive, voltou a licenciar produções originais para Netflix e Prime Video, algo que havia interrompido quando do lançamento do Star+ no Brasil há pouco mais de dois anos.

Star+
Foto: Divulgação

Também em 2023, a Lionsgate decidiu encerrar a operação de seu streaming na América Latina e vai voltar a licenciar seus originais para outras plataformas. Todas as empresas aumentaram o valor das mensalidades.

A chamada “guerra dos streamings” tem sua origem formal em alguns meses decisivos de 2017 e 2018. Sim, a Netflix já servia conteúdo original há uma década antes disso, mas em 2017 seu negócio de streaming entrou em alta, com o lucro líquido anual saltando de U$186 milhões para U$559 milhões (dobraria novamente para $1,2 bilhão em 2018). Seu preço das ações, que começou 2017 em cerca de U$130 por ação, dispararia para mais de U$360 em 2018, à medida que Wall Street começava a avaliar a empresa como uma plataforma tecnológica, dando a ela uma multiplicação rivalizando com empresas como Google e Facebook.

O sucesso da Netflix assustou a Disney, que anunciou em 2017 que retiraria todo o seu conteúdo da Netflix e lançaria o que se tornaria o Disney+. Na sequência desse lançamento em 2019, as comportas se abriram, com a NBCUniversal introduzindo o Peacock, nos EUA apenas, e a chegada do Paramount+ e HBO Max (agora Max).

O resultado foi dezenas de bilhões de dólares fluindo para o conteúdo de streaming e saindo da TV linear… e perdas maciças para as empresas de mídia tradicionais que entraram nesse espaço. Comcast, Disney, Warner Bros. Discovery e Paramount perderam um total de $10 bilhões em seus serviços de streaming em 2022, de acordo com uma análise de seus relatórios anuais. Apenas a Netflix relatou um lucro: U$6,5 bilhões. E algumas, como Paramount+ e Peacock, ainda não viram seus prejuízos atingirem o pico.

É uma situação preocupante, especialmente com Wall Street não mais avaliando as empresas de streaming como gigantes da tecnologia. Isso também levanta uma questão interessante: será que o streaming pode realmente funcionar como modelo de negócios?

Falando com investidores e analistas em 19 de setembro no Walt Disney World, o CEO da Walt Disney, Bob Iger, argumentou que sim. Quando Iger delineou quatro prioridades-chave para sua empresa, tornar seu negócio de streaming lucrativo estava no topo da lista.

“A empresa planeja criar menos conteúdo e gastar menos no que cria, embora colocar franquias-chave como Star Wars de volta nos cinemas seja uma prioridade”, escreveu o analista do JPMorgan, Phil Cusick, em uma nota de 20 de setembro, acrescentando que espera que o Disney+ seja lucrativo até o final do ano fiscal de 2024.

Muitos serviços foram lançados a preços baixos para atrair o maior número possível de assinantes o mais rápido possível. Isso está mudando, e não apenas os preços estão subindo, mas estão aumentando de uma maneira projetada para levar os assinantes para níveis com anúncios, onde essas empresas podem monetizar ainda mais os usuários.

Em busca da estabilidade

Há uma razão para que a Netflix e o Disney+ ajustaram seus preços para tornar mais caro evitar anúncios, e há uma razão para a Amazon estar adicionando anúncios ao Prime Video. Eles querem consumidores nesses níveis com anúncios (ou pagar caro pelo privilégio de optar por não participar). Acontece que o streaming é difícil, mas a publicidade continua sendo um bom negócio.

Há alguns sinais encorajadores de que o streaming pode ser lucrativo, se não tão lucrativo quanto o modelo de negócios da TV a cabo que substitui. Os lucros da Netflix continuam a crescer, e pela primeira vez um serviço mainstream de uma empresa de mídia tradicional deve ser lucrativo. A Max, o serviço da Warner Bros. Discovery, estava prestes a se equilibrar no segundo trimestre, e está a caminho de ser lucrativo este ano, disse o CEO David Zaslav aos investidores durante a última chamada de resultados da empresa.

O movimento da Disney de oferecer um só streaming, ainda que sob o prejuízo de ofertar menos conteúdo, está inserido nesse contexto de buscar soluções que tornem o modelo de negócio rentável. A Netflix, como se pode observar, continua liderando o mercado, ditando tendências e vencendo a guerra dos streamings.

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