Por Laisa Lima
Se relacionar não é nada fácil. Unir-se na saúde e na doença, então, é mais difícil ainda. Considerando isso, a compreensão acerca do fato de que, no Brasil, os divórcios estão diminuindo por conta também do menor número de casamentos, é quase instantânea se for visto que compartilhar a vida com alguém requer mais força de vontade do que só o amor propriamente dito.
Mas será possível manter aquele fogo de uma paixão cega por muito tempo? Duas pessoas que decidem se juntar sob o mesmo teto, conseguem ser bem-sucedidas no relacionamento? As diferenças separam mais do que atiçam a curiosidade? Há quem chegue no felizes para sempre?
Com o intuito de sanar algumas dúvidas sobre paixão, casamento e atritos, o Culturize-se preparou uma pequena trajetória até a felicidade plena, com o auxílio de Magali e Sérgio Leoto, escritores, palestrantes e autores do livro “Vivendo e Aprendendo a Brigar” (editora Mundo Cristão).
Da paixão ao amor
O sentimento avassalador da paixão chega para qualquer um. As pupilas dilatadas, o coração acelerado, o vício em uma única droga: a pessoa alvo da emoção. E a analogia não é meramente coincidência; o neurotransmissor responsável pelos atos apaixonados, a dopamina, resulta em um efeito parecido com o da cocaína. E o que isso causa? Uma felicidade anestesiante e, consequentemente, uma abstinência sem igual. Aliás, a fragilidade imunológica está ativa neste período devido a diminuição do cortisol, tornando o indivíduo suscetível a gripes e infecções.
Esse estado é eterno? Para infelicidade de alguns, não. Durando entre 12 a 18 meses, a paixão tem prazo de validade; o amor, não.
Ao longo do convívio, a ocitocina, hormônio responsável pela sensação de cumplicidade e relaxamento, aumenta sua produção quando se está ao lado do amado ou amada. Inclusive, um abraço com mais de 21 segundos libera demasiadamente a ocitocina, assim como em um orgasmo. Além disso, o hormônio da vasopressina é igualmente solto a fim de tornar a fidelidade ao parceiro(a) algo duradouro.
Contudo, a passagem de fase depende se o indivíduo vive um “amor de verdade” ou uma “louca paixão”. “Paixão é egoísta, há manipulação, ou seja, um exige que o outro seja a pessoa que ele tem idealizada na sua cabeça (…) .Amor de verdade, não faz essa pressão, onde alguém ‘tem que’ fazer alguma coisa, por imposição ou medo de perder o parceiro. Existe parceria, reciprocidade, empatia, tolerância, flexibilidade etc.”, dizem Magali e Sérgio.
Após a confirmação de que o amor não é uma paixão fugaz, geralmente o próximo passo é dado: é hora de juntar as escovas de dente e vivenciar o dia a dia como casal.
Do amor ao casamento
“Costumamos dizer que ‘casamento não foi feito para ‘crianças’, mas sim para ‘adultos’.”
Magali e Sérgio ressaltam que é necessário saber conviver com as diferenças das partes. Segundo eles, algumas vezes o casal até detém o amor, mas são infantilizados a ponto de não saberem se entender, reproduzindo comportamentos errados e despejando seu “lixo emocional” – ou seja, as frustrações, o mal-estar, etc.- sobre o outro. A falta de limites imposta pela sociedade imediatista é um dos maiores erros que afetam um relacionamento, dado as atitudes individualistas impostas de maneira quase inconsciente.
Logo, não basta apenas a vontade de estar colado 24 horas com o indivíduo movido pela impulsividade da paixão. É preciso assimilar que existem aspectos, enublados pela intensidade desse forte sentimento, que necessitarão de ajustes para um casamento próspero.
Os escritores, desejando simplificar os fatores requeridos para se ter em mente antes da junção, elencaram características com a finalidade de obter uma boa parceria:
- Alteridade – isto é, respeitar o outro, como uma outra pessoa
- Ouvir o coração do outro
- Deixar o uso de máscaras – vivenciar a “verdade” e não a “falsidade”
- Encarar os afazeres domésticos como parceria
- Necessidade de determinar limites
- Lidar com os conflitos
- Aprender a perdoar e pedir perdão
Do casamento à convivência
“Vários casais percebem que se casaram com opostos (um é expansivo e o outro é retraído). Isso é normal, mas exige adaptação e flexibilidade – do contrário, um tentará “mudar ou anular” o jeito de ser do outro. Isso não acabará bem. Só quando damos espaço para que o outro sinta-se à vontade, em viver como ele realmente é, desfrutamos de uma convivência agradável e podemos obter o que há de melhor em viver uma a vida a dois.”
Nascemos sozinhos mas, em boa parte dos casos, não permanecemos sozinhos. Optamos por experienciar a vida com outra pessoa, determinando momentos que inevitavelmente serão de grandes aprendizados. Entretanto, dividir um mesmo ambiente com o(a) escolhido(a) pode não ser tão agradável, visto que o choque de culturas, distinções e comportamentos é uma fase sem ultrapassagem.
“Nossa experiência em aconselhar casais, através de psicoterapia e mentoria, tem mostrado com frequência a perda de alguns valores e princípios básicos de uma vida a dois”, relatam Magali, psicóloga, e Sérgio. Para ambos, as diferenças, tão apontadas como fontes de discórdia – e até separação -, não devem ser tratadas como uma competição, e sim nos papéis de complementos. Esta é uma das chaves para uma convivência agradável.
Amar a si mesmo, cuidar de si, ser generoso consigo e confiar em sua própria pessoa é outro importante pilar que influencia diretamente em uma relação íntima impulsionada pelo amor romântico. É impossível tratar o próximo com respeito se este sentimento não existe dentro do casal como pessoas individuais.
“Casar é viver fazendo e cumprindo acordos! Precisamos casar todos os dias!”, comentam os autores.
Da convivência às brigas
Para o casal, o livro de John Gottman, “Sete princípios para o casamento dar certo”, resume bem os motivos para a briga de um casal:
1) ABORDAGEM RÍSPIDA, seguidas de críticas;
2) SEQUÊNCIA PROBLEMÁTICA de Crítica, Desprezo, Defensividade e a Incomunicabilidade;
3) SATURAÇÃO: quando o processo de crise gerou um trauma, que faz a pessoa ficar desanimada e prostrada;
4) LINGUAGEM CORPORAL: ao iniciar uma discussão, a pessoa tem dificuldades e sensações físicas, coração disparando, sudorese etc.;
5) TENTATIVAS DE REPARAÇÃO SEM SUCESSO;
6) RECORDAÇÕES DESAGRADÁVEIS: momentos antes bons tornam-se ruins.
Caso estas questões estejam presentes, o divórcio é um risco iminente.
Os escritores ratificam que “no início tudo é divertido, mas com o passar do tempo, as diferenças começam a irritar”.
“As “brigas” que só destroem são aquelas em que, quando um cônjuge começa a falar, o outro “trava a mente” logo no início, sem ouvir parte do que foi dito, só esperando um “intervalo” na conversa, para revidar jogando ofensas. Mas existem discussões que podem ser muito “produtivas” para o casal. Isto acontece, quando aprendemos a ouvir com respeito o ponto de vista e argumentos da outra pessoa.”
Identificar a raiz do problema é um caminho certeiro para a volta da tranquilidade. Magali e Sérgio citam a comunicação defeituosa; as atitudes egocêntricas; tensões interpessoais (sexo, definições de papéis, religião etc.); – pressões externas (dos sogros, filhos, amigos, crises); – tédio e rotina na relação; fatores socioeconômicos, escolaridade e de idade; trabalho (excesso ou falta dele) entre outros; como fundamentos de brigas e separações.
Para culminar de fato em um divórcio, os autores mencionam atitudes extremistas, tais quais abusos do cônjuge, impactos de acontecimentos externos na vida, infidelidade, infelicidade, questões financeiras, uso de drogas, e afins.
Das brigas aos felizes para sempre
Nem tudo está perdido. Um casamento pode sim ser bem-sucedido, duradouro e saudável.
Magali e Sérgio indicam aspectos que desenvolvem um casório feliz a longo prazo:
1) Amizade
2) Respeito
3) Boa Comunicação
4) Chamas do Romance
5) Prazer em Estar Junto
6) Valores Comuns
7) Boa Resolução de Conflitos.
Ademais, os benefícios de uma união estável e proveitosa são inúmeros: O casal separou alguns agentes que comprovam a veracidade de um relacionamento vantajoso:
- Há confiança no parceiro e não há dúvidas da intenção do outro;
- Viver junto não compromete a autonomia de cada um;
- Há uma capacidade de solucionar os problemas;
- Se houver mágoa, ressentimentos e desafetos, o perdão e a reconciliação são buscados rapidamente;
- As necessidades e expectativas, são colocadas de forma respeitosa e generosa;
- Preservar a paz, a unidade e o bem dos dois.
Logo, é atestado: o amor é capaz de prevalecer.
“O casal que conseguir respeitar as diferenças entre si, saberá lidar com as divergências que encontrarem com os outros no dia a dia.”