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História de amor creepy dá largada em profusão temática de “Até os Ossos”

Novo longa do cineasta italiano Luca Guadagnino, “Até os Ossos” vê no canibalismo a plenitude da metaforização

Por Reinaldo Glioche

O prólogo de “Até os Ossos” é daqueles de capazes de nausear. Uma garota tímida, que parecer ser o “projeto social” das colegas, morde com todas as suas forças o dedo de uma delas. A ação, aparentemente despropositada, aos poucos vai ganhando sentido. Aturdida com o que acabara de fazer, Maren (Taylor Russell) corre para casa. Ela e seu pai, então, caem na estrada.

A estrada é uma constante no novo filme de Luca Guadagnino, que depois de “Suspiria” (2018) volta ao horror para expor as ambivalências da América profunda por meio de seu incrível potencial de metaforização. “Até os Ossos” é, antes de qualquer coisa, uma história de amor! Creepy, mas uma história de amor!

O pai de Maren espera ela alcançar a maioridade para abandoná-la à própria sorte e por meio de algumas fitas protagonista e audiência entendem suas razões. Ela era como sua mãe e tinha um demônio queimando dentro dela que lhe impulsionava o desejo de comer carne humana. Maren se lança numa jornada para encontrar sua mãe, tentar saber mais um pouco de si e se é possível controlar tais impulsos.

É nessa jornada de autoconhecimento que ela encontra Lee, Timothée Chalamet em seu melhor momento como ator desde “Me Chame Pelo Seu Nome”, um sujeito de moral duvidosa que acolhe com ternura.

Antes, porém, ela cruza com Sully, um taciturno Mark Rylence, que se propõe a ensiná-la uma coisa ou outra sobre a vida de canibal, mas Maren se ressente um tanto dele.

São esses os conflitos que movem “Até os Ossos”, que se viabiliza muito mais nas possibilidades que eles ensejam do que em suas soluções propriamente ditas. Guadgnino vê o canibalismo aqui com uma alegoria para o vício e seu compêndio moral e existencial, mas há também uma proeminente aura queer nas interjeições narrativas do longa.

Fotos: divulgação

Tanto o senso de deslocamento, como a incompreensão, estipulam as bases metafóricas para fazer de “Até os Ossos” um filme até mais queer do que o cultuado “Me Chame pelo Seu Nome”. Todavia, a sofisticação narrativa permite aqui muito mais ambição nos arranjos estéticos e nas ilações da audiência.

O desfecho, trágico e romântico de uma maneira bem apocalíptica, garante que “Até os Ossos” não seja uma experiência finita. Compartilhar da carne, afinal, é um dos gestos de amor mais definitivos que existe.

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