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Jonah Hill faz carta de amor a seu analista e ao processo terapêutico em “O Método Stutz”

Por Reinaldo Glioche

Jonah Hill, duas vezes indicado ao Oscar (pelas performances em “Moneyball” e “O Lobo de Wall Street”), estreou como diretor em 2018 com o mediano “Anos 90”, uma confabulação sobre infância, adolescência e relação fraternal. Quatro anos depois lança na Netflix, “O Método Stutz” (2022), um longa radicalmente diferente em forma, estrutura e narrativa, mas que traz alguma sinergia temática com aquela estreia.

O documentário tem como objetivo primário versar sobre a vida e ideias do analista de Jonah Hill, “alguém que salvou sua vida e lhe devolveu o gosto por viver”, e, em um segundo momento, tecer um elogio sobre o processo terapêutico – embora a metodologia de Stutz tenha o protagonismo, o elogio não se restringe a ela.

Hill sabe da pretensão da proposta e quando o público menos espera é surpreendido por uma demolição de fachadas emblemática e que se configura em uma escolha narrativa potente – para o filme e para o processo terapêutico que ele enseja ser. É interessante observar como Hill salienta a vulnerabilidade como um lugar de difícil acesso e, nesse contexto, o filme surge como um ponte, um pretexto para vulnerabilizar-se.

Sob essa ótica, fica ainda mais interessante testemunhar a dança entre terapeuta e paciente, como os papeis se invertem e covalências desconhecidas surgem para embalar a reflexão do público. “O Método Stutz” não esconde sua raiz performática. Se nutre dela. Hill sabe que seu filme metamorfoseou-se indissociavelmente de seu processo terapêutico e mostra isso para o público com algumas soluções que mostram o grau de influência de seu terapeuta não somente na forma como lida com sua vida, mas como pensa seu cinema.

Jonah Hill e seu terapeuta, Phil Stutz

Tanto seu filme como a terapia dentro de seu filme – que pode ou não ser muito distinta em ritmo e forma daquela com as câmeras desligadas – se beneficiam das ferramentas – muito visuais e performáticas – de seu psicoterapeuta.

Logo de início Phil Stutz observa que é diferente “da grande maioria dos terapeutas” e o filme não se demora muito na justificativa do porquê disso, mas organicamente vai constituindo uma defesa da peculiaridade daquele personagem, que aceita vulnerabilizar-se de maneira arrebatadora para incrementar o processo terapêutico de seu paciente. Uma ligação tão nevrálgica que vez ou outra a cumplicidade dos amantes é sugerida.

“O Método Stutz” não é só um filme sobre a terapia de Jonah Hill e seu terapeuta. É sobre luto, buscas, enfrentamento e vulnerabilidade. Como diz um dos mantras de Stutz, é preciso saber que há três realidades indesviáveis em nossa existência: dor, incertezas e o trabalho constante. “Não importa o que as pessoas achem deste filme, o que importa é que o finalizamos”, observa Hill, demonstrando plena consciência do processo, ao fim do longa.

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