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A ascensão da polarização afetiva

Por Reinaldo Glioche

O leitor talvez esteja cansado do preâmbulo de todo e qualquer comentário político incidir sobre a polarização. É realmente desgastante, mas contingência de nossos tempos. Desde a ascensão do bolsonarismo no Brasil, como movimento de oposição ao lulismo, vimos um aprofundamento dessa polarização. Que como os próprios nomes revelam, já não é mais partidária e sim afetiva.

Os próprios políticos fazem questão de gravitar em torno dessa nova condição. Tome a eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2024 como parâmetro. O candidato que lidera as pesquisas, Guilherme Boulos (PSOL), apoiado por Lula, busca refúgio na polarização ao cravar que seu rival, o prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes, é o candidato do bolsonarismo. Nunes evita assumir-se como tal porque há a avaliação de que o bolsonarismo traz consigo prejuízos eleitorais no longo prazo, mas também há a avaliação de que não há como operar fora desse espectro das afetividades na política brasileira atual.

Foto: montagem sobre reprodução

Esse reforço da polarização afetiva tem reflexos controversos. As pessoas estão desistindo de dialogar e embora essa escolha faça sentido de uma perspectiva individual, ela é bastante perigosa de um ponto de vista coletivo. Pesquisas apontam que pessoas bolsonaristas empregam mais bolsonaristas, que lulistas colaboram mais com lulistas. Que a orientação política está norteando, por exemplo, das escolhas de bairros para se morar às escolas para matricular os filhos. É um fenômeno que, visto com lupa, preocupa.

Isso porque estimula preconceitos, segregação e alienação. Tudo o que as lideranças políticas deveriam combater, mas a política do enfrentamento é historicamente bem sucedida e encampada em eleições majoritárias de grande porte, como a vindoura presidencial nos EUA.

Leia também: STF à esquerda tensiona relação com Congresso conservador

Some-se a esse ambiente de excepcionalidades normalizadas o uso da inteligência artificial, a desinformação como estratégia de convencimento e se tem um cenário desafiador do ponto de vista da civilidade e construtivismo social.

Pautas identitárias sempre foram umbilicais à atividade política, mas o que se percebe no Brasil contemporâneo é um entranhamento radical. A tolerância ao debate de ideias, ao contraditório está em decadência. Difícil dissociar esse fenômeno da perda de credibilidade das instituições brasileiras, da constante tensão emanada pela atuação do STF e pela falta de capacidade das lideranças políticas brasileiras de atuar fora de um contexto de polarização.

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