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Psicanálise e homeopatia viram alvo de Natalia Pasternak e Carlos Orsi no livro “Que Bobagem!”

Redação Culturize-se

A microbiologista, professora de Ciência e Políticas Públicas na Universidade de Colúmbia (EUA) e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC) Natalia Pasternak e o jornalista e diretor do IQC Carlos Orsi, premiados em 2021 com o Jabuti de Literatura pelo livro “Ciência no Cotidiano”, estão com um novo livro na praça e que promete uma boa cota de polêmicas.

“Que Bobagem!: Pseudociências e Outros Absurdos que Não Merecem ser Levados a Sério” (Editora Contexto, 336 pgs) faz um ataque, com arqueologia de fundamentos, ao que chama de pseudociências em 12 frentes. Acupuntura, constelação familiar, astrologia, curas energéticas e dietas da moda entre elas. O que chama mais a atenção, porém, são as presenças da homeopatia e psicanálise, amplamente aceitas e amparadas no meio científico.

Os autores chegam a comparar o trabalho de Freud a uma “Disneylândia discursiva” e sustentam haver falta de embasamento científico em conceitos básicos da psicanálise e até resgatam relatos de pacientes que acusam Freud de implantar neles memórias inexistentes.

Em artigo recente na Folha de São Paulo, o colunista Hélio Schwartsman, que recomenda o livro, elogia o processo de desconstrução proposto pelos autores, mas faz ressalvas. “Acho que Pasternak e Orsi se precipitaram ao qualificar a ciência como ‘melhor descrição possível da realidade factual’. Essa é uma posição respeitável, mas a discussão epistemológica é mais complicada”.

Schwartzsman, entretanto, se seduz com a capacidade argumentativa da dupla. “O tratamento dado às questões é amplo. Eles não só mostram como cada uma das pseudociências abordadas falha em mostrar que funciona como também descrevem os principais vieses cognitivos humanos que nos tornam vulneráveis à pregação, seja de charlatães, seja de adeptos convictos, ainda que equivocados”.

No site que dirige, Orsi reconhece – e até se jubila com – o potencial polêmico e divisivo do livro, mas busca dimensionar sua importância histórica. “É um livro que tira o leitor da zona de conforto. Não fazemos isso por manha, birra ou para chocar a burguesia, mas porque é necessário. Pessoas que estão navegando suas interações com o mundo a partir de mapas ruins e bússolas desajustadas merecem algum aviso, mesmo que os mapas e bússolas sejam de um tipo normalmente protegido da crítica mais incisiva por aquele misto de senso de conveniência social com preguiça intelectual que às vezes passa por boas maneiras”.

Natalia Pasternak
A bióloga Natalia Pasternak | Foto: Reprodução/Linkedin

Ele continua: “exemplos das ficções apontadas e desnudadas no livro incluem o efeito potencializador das diluições infinitesimais da homeopatia, o inconsciente psicodinâmico da psicanálise, a energia vital do reiki, os vestígios arqueológicos dos deuses astronautas e a influência astrológica sobre a personalidade humana”.

Dobrando a aposta

Em entrevista ao portal Terra, os autores dizem que “a psicanálise se beneficiou de uma série de conjunturas históricas, que vão desde o gênio publicitário de Freud até a queima de seus livros pelos nazistas, o que revestiu a doutrina de uma aura heroica, aos olhos dos intelectuais da época”.

Eles insistem na carência de comprovações científicas para o amadurecimento da psicanálise e atribuem ao fato de filósofos, “no pós-segunda guerra, começarem a incluir conceitos psicanalíticos em suas análises políticas e literárias, transportando as ideias de Freud do campo clínico para o da cultura” como o principal vértice, ainda que extra-científico, da consolidação do que entendem como pseudociência.

Leia também: Mais problematizado do que nunca, Freud ainda é essencial para mover psicanálise adiante

Na sequência reconhecem quetodos os sistemas de crenças, teorias e doutrinas criados pelo ser humano para tentar explicar o mundo erram e estão sujeitas a contingências históricas e vieses subjetivos”, o que de certa forma desautoriza muitas das postulações de “Que Bobagem!”.

O que leva ao efeito Placebo, defendido arduamente pelos autores. Ao Terra, eles ressalvam: “Placebos são inconsistentes – nem sempre funcionam, e seu efeito varia muito de pessoa para pessoa. E mesmo quando ‘funcionam’, o efeito se restringe a certos sintomas (um placebo não vai fazer um câncer entrar em remissão)”.

No vídeo abaixo, Pasternak fala ao Jornal da Cultura sobre o livro.

A dupla reconhece que o livro e suas postulações podem ser percebidos como “vaidade intelectual”, mas defendem a necessidade de um trabalho como o “Que Bobagem!” ostenta. “Não é nosso objetivo ditar como as pessoas devem pensar ou em que devem acreditar – mas o mundo está repleto de conteúdo (livros, artigos, postagens em mídias sociais) promovendo pseudociências, e muito pouco mostrando às pessoas por que seguir esses sistemas pode não ser uma boa ideia.”

A dupla encerra enfatizando o objetivo do livro. “As pessoas seguem sendo livres para recusar a ciência na hora de decidir sobre suas vidas; mas é importante que façam isso de olhos abertos, que saibam que estão, efetivamente, rejeitando a ciência, e não se enganem achando que estão seguindo uma ‘ciência alternativa igualmente válida’. Nosso trabalho é permitir que se façam escolhas informadas”.

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