96ª edição do Oscar foi um grande acerto na cerimônia de TV e ainda mais assertiva na distribuição de prêmios. Mesmo as gafes adquiriram charme em ano que tudo parece ter conspirado a favor
Por Reinaldo Glioche
A consagração e “Oppenheimer” era inevitável e a grande dúvida era se o filme ganharia sete, oito ou nove estatuetas das 13 a que concorria. Foram sete, mas a manchete aqui é que os produtores da cerimônia souberam driblar a sensação de mesmice, que também parecia inevitável, e fizeram uma cerimônia pulsante, cheia de momentos fortes – com os discursos contra as guerras correntes na faixa de Gaza e na Ucrânia – , gafes charmosas, como Al Pacino se atrapalhado na hora de anunciar o Melhor Filme e momentos genuinamente bem roteirizados, como a brincadeira com Batman com Danny DeVitto e Arnold Schwarzenegger e um John Cena nu no palco remetendo a um momento histórico da premiação.
O grande momento, porém, foi mesmo a energética, cafona e cheia de sex appeal performance de Ryan Gosling da canção indicada “I´m Just Ken”. Esse momento apoteótico, para uma canção que sequer foi premiada – o Oscar ficaria com a outra canção indicada de “Barbie” – ajuda a entender a sucessão de acertos que foi o Oscar 2024. Das escolhas dos concorrentes às dos vencedores, a despeito de uma ou outra preferência pessoal, passando pelo ritmo da cerimônia, as gags do sempre confiável Jimmy Kimmel e até mesmo Steven Spielberg revelando um insuspeito timing cômico em diversos momentos.
A esperada, e nem por isso menos merecida, consagração de “Oppenheimer” significa também um movimento de reencontro da indústria. É a primeira vitória de um blockbuster hollywoodiano desde “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” em 2004 e o primeiro filme de estúdio a triunfar sem uma premiere em festival desde “Os Infiltrados” (2006). O filme de Nolan é, ainda, cinema adulto, inteligente, tecnicamente robusto, com elenco de estrelas, ambicioso e bem-sucedido comercialmente. Como já suficientemente alardeado, o filme que o Oscar estava esperando e até mesmo precisando.
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Esse reencontro não implica dizer que a Academia está voltada para o cinema americano. As vitórias de produções como “Anatomia de uma Queda” em Roteiro Original, “Godzilla Minus One” em Efeitos Especiais e ‘O Menino e a Garça” em Animação são claras demonstrações de que a ala internacional, mais parruda e eloquente, tem poder de decidir muitas disputas a despeito dos favoritos dos sindicatos americanos. O mesmo pôde ser visto na categoria de Melhor Atriz, em que Emma Stone ganhou seu segundo Oscar pela excepcional performance em “Pobres Criaturas”, a despeito de Lily Gladstone ter assumido o favoritismo recentemente com o triunfo no SAG, o sindicato dos atores, por “Assassinos da Lua das Flores”.
São indubitavelmente boas perspectivas para o futuro do Oscar. Hollywood foi dormir feliz como há muito não ia. A safra de 2023, é verdade, ajudou o Oscar a ser melhor em 2024, mas seria injusto não atribuir à maturidade e aos esforços por diversidade da Academia o belo retrato da 96ª edição do Oscar.