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Chris Blackwell, a eminência parda do reggae

Tom Leão

Assistindo a cinebio “Bob Marley: One Love”, sobre a vida do maior ídolo do reggae, Robert Nesta, uma figura lá, que foi muito importante não só para tornar Marley um ídolo mundial, mas também por dar visibilidade internacional ao reggae (para além da Jamaica) como um todo, meio que entra mudo e sai quase calado de cena, sem muitos detalhes sobre quem é. Trata-se do produtor e empresário da música Chris Blackwell.

Chris Blackwell
Chris Blackwell | Foto: Reprodução/Instagram

Nascido Chistopher Percy Gordon Blackwell, em 1937, em Londres, criou a mítica gravadora Island Records, na Jamaica, quando tinha apenas 22 anos, no final dos anos 50. Foi o primeiro produtor estrangeiro a gravar e difundir o ska, o ritmo antecessor do reggae (que teve um revival bacana no final dos anos 70, na Inglaterra, no som de bandas como Specials, The Beat e Madness, entre outras). Daí, ele pegou os registros, voltou para Londres, e passou a vender os discos itinerante, indo de carro às comunidades jamaicanas de Londres (nisso, lembra um pouco o começo da carreira de outro inglês da indústria fonográfica, Richard Branson, da Virgin, que vendia seus discos via correios ou entregando em mãos).

O começo foi modesto e totalmente independente. Mas, na virada da década de 1970 para 80, Blackwell (com um aporte financeiro da RKO, que lhe garantiu distribuição mundial) marcou seu nome no universo da música ao lançar, através da Island, nomes como Bob Marley (foi seu primeiro e maior apoiador, do começo ao fim da carreira do rastaman), a ex-modelo jamaicana Grace Jones (que lançou uma sequência de discos excepcionais, com produção da dupla drum & bass Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, procurem ouvir) e do U2, entre os nomes mais fortes de seu catálogo.

Blackwell não apenas foi o produtor de dois discos importantes de Marley (‘Catch a fire’ e ‘Uprising’) como também produziu o primeiro disco da banda que definiu o som new wave dos anos 80, a americana The B-52´s, em seu Compass Studio, em Nassau, nas Bahamas.

Em março de 1981, Blackwell veio ao Brasil para lançar a Island (via BMG-Ariola, que foi a gravadora que se estabeleceu aqui), com direito a trazer Bob Marley ao Rio de Janeiro, menos de dois anos antes de sua morte. Na época, Marley apenas deu entrevistas para a imprensa (não pôde fazer nem um pocket show, porque teve visto de trabalho negado), e participou de um agora mitológico jogo de futebol, no campo de Chico Buarque (o Politheama, na Barra) que foi registrado pelas lentes do fotógrafo Mauricio Valladares (estão no livro dele).

Marley não hesitou em vir ao Brasil por uma série de fatores: como super fã de futebol, queria conhecer de perto alguns craques da seleção de 1970. E conseguiu. Conheceu Paulo César Caju, ganhou uma camisa da seleção assinada pelo rei Pelé (aparece com a amarelinha em várias fotos). Além de Bob, vieram no jato da Island, além do próprio Blackwell e sua namorada, a modelo Nathalie Delon, o magnifico guitarrista Junior Murvin (que tocou no clássico álbum de Bob, ‘Exodus’) e o falecido cantor Jacob Miller, da banda Inner Circle.

Chris Blackwell foi grande apoiador do reggae

Já Blackwell (que passou a infância na Jamaica, por isso conhecia a música na raiz, não foi um mero aproveitador), antes de Marley, lançou Toots & Maytals, que popularizou o termo ‘reggae’. Na sequência, escreveu a história, lançando discos de Black Uhuru, Burning Spear, Augustus Pablo, Aswad, Third World, Lee Perry e Sly & Robbie, entre outros; e também de nomes da moderna música africana, como Baba Maal, Angélique Kidjo, Salif Keita e King Sunny Adé, entre outros.

Ainda se arriscou no cinema, produzindo o gangsta movie ‘The harder they come’ (1972, música que, aqui, virou ‘Querem meu sangue’, com Titãs), estrelado por Jimmy Cliff. De quebra, fez ponta no primeiro filme de James Bond, ‘Dr. No’ (1962). Aliás, hoje ele é dono da casa de Ian Fleming, o criador de Bond, na ilha. Antes de vender a Island para a Universal, em 1989, Blackwell fez dela um hub para vários outros selos menores que lançavam musica nova, como: Trojan Records (especializada em reggae), Chrysalis (lançou o Blondie), Stiff Records (lançou Elvis Costello), ZTT (de Frankie Goes to Hollywood e The Art of Noise), a lista é longa. Hoje, Blackwell se dedica ao ramo hoteleiro, tendo vários resorts na Jamaica, sua ilha querida, de onde veio toda a inspiração e sucesso. Aplausos!

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