Search
Close this search box.

A razão por trás da longa duração de filmes e discos atuais

Tom Leão

Nos últimos anos, temos testemunhado filmes com durações cada vez maiores, sem necessidade. É drama, comédia ou animação com mais de duas horas de duração. Filmes de herói com quase três! O que aconteceu com os filmes que duravam entre hora e meia, duas, no máximo? Por que isso tá rolando?

   Bem, para tentar entender, voltarei no tempo para lembrar alguns detalhes que levaram a isso. Tudo começa pela limitação da mídia. Lembra quando o CD virou a mídia musical padrão? A duração máxima dos disquinhos prateados foi estipulada em 74 minutos por um executivo da holandesa Philips (que inventou o formato/tecnologia), baseado na duração de uma peça clássica, para caber inteira nele. Até os disquetes de MD seguiram esse padrão, no começo: o de durar 74 minutos.

   Assim, aquele tempo anterior dos discos de vinil, cerca de 20 minutos de cada lado, para que os sulcos não ficassem muito apertados e não se perdesse a qualidade da gravação, acabou. Os 74 minutos do CD (mais adiante, chegou aos 80 minutos) adicionaram meia hora a mais aos discos. Então, a partir dos CDs, não apenas os álbuns passaram a durar mais, como começaram a trazer faixas extras/bônus. Tanto que, as versões em vinis destes, começaram a virar álbuns duplos, para caber todo o conteúdo do CD. O que aumentava o preço.

Napoelão
Joaquin Phoenix em cena de “Napoleão” | Foto: Divulgação

  Então, chegamos aos filmes. Hoje, antes de assistir qualquer um, checo a duração, o que me dirá se irei ou não ao cinema (últimos filmes muito longos que vi e curti, foram os da trilogia ‘O Senhor dos Anéis’). Atualmente, tudo gira em torno de 2h20/2h40m, o que, dependendo do conteúdo, só adiciona enrolação ao todo (vide o último ‘Indiana Jones’, que é uma lástima).

Dos mais recentes, um é o premiado ‘Oppenheimer’, de Christopher Nolan, que leva cansativas três horas, por conta de um julgamento que poderia ser apenas um detalhe e enxugaria e focaria mais o filme no assunto principal: a criação da bomba atômica. Outro, é o ótimo épico de Martin Scorsese, ‘Assassinos da Lua das Flores’, que dura exaustivas 3h40, e poderia ter menos 40 minutos, sem prejuízo algum para a sua narrativa. Parece que Marty fez de birra, para os que reclamam disso (filmes longos), mas fazem maratona no streaming. E tudo isso sem intervalo, como acontecia nos filmes clássicos.

 Mais sensato foi o Ridley Scott, que limitou seu épico ‘Napoleão’ a 2h40 (a gente termina querendo mais), por ter concluído que é o tempo que uma pessoa fica numa sala de cinema sem se incomodar. Futuramente, a versão completa, com cerca de 4 horas (!), será lançada no AppleTV+.

Por que isso acontece? Assim como a música tinha o limite dos lados do vinil (e parecido da fita cassete, cuja média era de 60 minutos, 30 de cada lado), os rolos de filmes duravam cerca de 20 minutos. Assim, quanto mais longo fosse o filme, mais caro seria a sua revelação/distribuição. Agora, não. Com a gravação em digital (a película praticamente foi extinta), não há mais limite para o que se pode filmar. E, os filmes, chegam aos cinemas em pen drives específicos, com senhas.

   Antes, apenas os filmes épicos/históricos (como ‘Ben-Hur’, ‘Cleópatra’ ou ‘Lawrence da Arábia’) eram exceção (cerca de 3/4 horas de duração, com intervalo!). O filme ‘normal’ durava entre 90 e 100 minutos. Tempo o bastante para contar a história, sem encher o saco ou atrapalhar as sessões dos cinemas. Você sabia que ficaria, no máximo, duas horas numa sala.

   Mas, o digital, acabou com isso. Sem o limite de latas/rolos de película para rodar e revelar (o que encarecia o custo total da produção; hoje em dia, nem existem mais laboratórios para isso em grande parte do mundo), os filmes digitais podem ser editados no set e não tem limite de tamanho. Acaba quando o diretor achar que deu. Quando se tem algo a dizer, ok. Mas, quando não (a grande maioria, como nos discos em CD), é dose! Felizmente, tenho ouvido cada vez mais discos recentes, de artistas novos ou não, que voltaram a durar entre 40 e 50 minutos. O que me faz frui-los mais vezes. É sempre bom lembrar daquela máxima: menos é mais.

Deixe um comentário

Posts Recentes