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Martin Scorsese, um amante de todas as músicas

Tom Leão

Pouca gente sabe que, a primeira vez que Martin Scorsese ganhou créditos num filme, foi como editor assistente em ‘Woodstock’ (1969). Eu mesmo, só fui descobrir isso depois que vi uma edição especial do famoso concerto filmado, o primeiro a ser lançado mundialmente nos cinemas. Porque, antes de tudo, Marty (assim como David Chase, o criador dos Sopranos) é um grande fã de música. Especialmente do rock de sua geração. Por isso, a música em seus filmes tem importância vital.

  Diferentemente do Tarantino, Marty não busca pela música mais estranha/bizarra e/ou desconhecida para inserir em suas trilhas. É fã dos hits. Do pop, do rock, do blues, jazz, r&b… Inclusive, foi o diretor do clip para ‘Bad’, do Michael Jackson, um daqueles da fase clips cinematográficos de Jacko, que começou com o para ‘Thriller’, feito por John Landis.

   Além da refinada garimpagem para suas trilhas, Scorsese (cujo novo filme, ‘Assassinos da Lua das Flores’, acaba de estrear no AppleTV+), vez por outra, dirige algum show ou documentário de seus artistas favoritos. Como é o caso do fascinante documentário ‘Rolling Thunder Revue: a Bob Dylan story by Martin Scorsese’ (Netflix), no qual ele documentou a estranha (e meio flopada) turnê que Dylan empreendeu pelos Estados Unidos em 1975, quando tentava se reinventar, mudar um pouco a sua imagem de bardo folk, com auxílio de gente como o poeta beat Allen Ginsberg, Patti Smith e Joan Baez.

Martin Scorsese e os Rolling Stones
Foto: Reprodução/Volture

   Antes de revisitar Dylan, em 2011, Marty relembrou George Harrison, em ‘Living in the material world’, no qual examinava a vida do eterno Beatle, através de entrevistas, fotos, trechos de shows e filmes caseiros. É o mais completo documento sobre o falecido artista.  Alguns anos antes deste, em 2008, Scorsese dirigiu e capturou ‘Shine a light’, um concerto especial dos Rolling Stones, gravado no Beacon Theater, em Nova York, enquanto a banda britânica empreendia uma nova turnê mundial. Além de passar nos cinemas, o filme saiu em DVD e teve sua trilha lançada em CD. Este show, captou um momento mais intimista dos Stones. Em vez das grandes arenas, um pequeno teatro, como raramente fazem hoje em dia.

   Não foi a primeira vez que Scorsese captou uma banda ao vivo. No período entre dois de seus maiores sucessos, o cult ‘Taxi driver’ (1976) e o clássico ‘Touro indomável’ (1980), Marty se dedicou a registrar aquela que seria a última (ma non troppo) apresentação do grupo canadense-americano The Band, em ‘O último concerto de rock’ (‘The last waltz’, 1978). Acabou não sendo o fim da banda (como comentamos aqui, numa coluna anterior). Mas, com certeza, é um dos melhores concertos já filmados. O filme foi relançado recentemente nos cinemas americanos e conta com uma versão em 4k para vídeo.

   Voltando aos dias atuais, seu monumental épico, ‘Assassinos da Lua das Flores’ (‘Killers of the Flower Moon’) já abre com um magnífico tema criado por Robbie Robertson, o líder do The Band, que faleceu recentemente (e, por isso, o filme é dedicado a ele). O drama, baseado em fatos reais (a partir de livro homônimo de David Grann) junta um time de responsa: o atual queridinho de Marty, Leonardo DiCaprio e Robert De Niro (que foi o seu queridinho original), além de nomes como Brendan Fraser, John Lithgow e, numa participação especial, bem no finalzinho do filme, Jack White, ele mesmo, dos White Stripes.

   O novo filme de Scorsese trata da nação Osage, que se tornou a mais rica da terra, per capita, por ter brotado petróleo nas terras ‘ruins’ em que eles foram largados (o que provocou uma série de assassinatos misteriosos, com o intuito de elimina-los e tomar as riquezas). Como o filme se passa basicamente nos anos 20 do século passado, não deu para incluir pop e rock.   Contudo, temos algum jazz e blues, como ‘See See Rider Blues’, com Ma Rainey e Louis Armstrong; ‘Dark was the night, cold was the ground’, por Blind Willie Johnsson; e ‘Livery stable blues’, com Vince Giordano e The Whitehawks, entre outras. Suas 3h40 passam algo rápido, tal a qualidade da narrativa. Marty pode estar velho. Mas, não está morto como cineasta. Definitivamente, não está.  

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