Ambientado no Amazonas, novo livro do poeta e professor Daniel Massa narra as tradições dos povos indígenas a partir de versos
Redação Culturize-se
O idealizador do projeto Biblioteca Indígena do Xingu, Daniel Massa, utiliza suas experiências para dar voz àqueles que precisam ser vistos e ouvidos. Sua mais recente obra, intitulada “Fio D’água” e publicada pela editora 7Letras, narra a história de uma missionária e um recém-nascido cujos caminhos se cruzam nas águas do Rio Negro.
O romance é construído em versos e transita habilmente entre gêneros literários, criando uma narrativa inovadora e, por vezes, sinuosa, assemelhando-se ao leito do rio que ganha forma a partir de um fio d’água. Daniel explica: “A poesia é o lugar em que eu me encontro mais, mas essa obra passa também pela prosa porque estou trabalhando na fronteira entre elas. Para mim, é mais interessante abrir a forma da poesia narrativa para sair do lugar comum do romance. Narrar a partir do verso traz um fôlego que faz com que o livro seja bem diferente.”
Essa fusão carrega a potência da poesia e a estrutura da narração, com personagens, enredo e cenário. A cada capítulo, o autor explora abordagens distintas, alguns capítulos se assemelham a canções, enquanto outros são mais extensos.
Guiado pela essência e energia da água, o leitor acompanha o crescimento de Moisés, nome simbolicamente atribuído ao recém-nascido, em meio a cenários como o bairro Educandos, as palafitas do Bodozal e a Feira da Panair, revelando os conflitos da metrópole amazônica. A personagem Orsina, empenhada em alimentar e educar o menino, tenta mantê-lo afastado de seu passado, distante do rio e do mistério que envolve sua ascendência.
No entanto, a água se manifesta através de chuvas, igarapés canalizados e suores noturnos, traçando caminhos que nem sempre são previsíveis. Nesse contexto, tudo parece fluir, líquido e adaptável, mantendo sua composição original. A experimentação formal reflete, como um espelho d’água, as escolhas da trama, resultando em uma imersão estética profunda.
Imagens aéreas dos rios amazônicos, com suas curvas sinuosas, inspiraram a construção da obra, e o autor transporta essa fluidez para seus versos. “Um verso puxa o sentido do outro”, ele explica.
A diversidade cultural é central no enredo, com ênfase na questão indígena. Os conflitos apresentados na obra incentivam uma reflexão crítica e plural. Questões sociais também são exploradas conforme o tempo passa para os personagens, expondo diferentes realidades em distintas fases da vida. É possível comprar o livro aqui*.
Sobre o autor
Daniel Massa nasceu em Saquarema, em 1986. É poeta e professor de ensino médio, atuando nas áreas de literatura e língua portuguesa em escolas do Rio de Janeiro. Graduou-se em Letras pela UERJ em 2008, sendo especialista em Literatura Infantojuvenil pela UFF (2011) e Mestre em Literatura Brasileira pela UFRJ (2012), onde defendeu a dissertação “De como se mata a morte: diálogos sobre a literatura infantil brasileira”.
Ele foi um dos idealizadores e coordenadores do projeto Biblioteca Indígena do Xingu, realizado entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022 no Território Indígena do Xingu, Mato Grosso, a convite do cineasta Takumã Kuikuro e do educador Mutuá Mehinako.
Como professor, conduziu oficinas de escrita literária em escolas do Rio de Janeiro, resultando na fundação de duas editoras e na publicação de diversos livros literários escritos por alunos do ensino fundamental e médio.
Seu livro de estreia, “Não tem nome de quê”, foi publicado pela editora carioca BR75 em 2021. Ainda no mesmo ano, lançou a plaquete “repente vale mesmo a pena é ir a pé” pelo selo independente Lluvia Livro.
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