Redação Culturize-se
Revelar a orientação sexual ou identidade de gênero e sair do armário para a família não é um processo doloroso apenas para a pessoa LGBTI+, mas também para seus pais, mães e cuidadores. Muitos de nós já ouvimos relatos semelhantes, de ambos os lados do conflito, como os exemplos abaixo:
“Decidi contar para minha mãe e, naquele momento, ela me disse que sentia vergonha de mim. Isso doeu profundamente e posso garantir que, dentre todas as situações que vivenciei devido à minha homossexualidade, essa foi a mais dolorosa.”
“Na época da escola, alguns meninos jogaram uma porta em cima de mim e eu quebrei a perna. Minha mãe dizia que eu sofria isso por causa do meu ‘jeitinho de viado’. Eu tinha 8 anos.”
“Quando descobri que meu filho era homossexual, fiquei paralisada. Não conseguia conviver com ele, não conseguia tocá-lo (…). Ele morava na minha casa, mas passei cinco anos o excluindo. Deve ser extremamente doloroso ser ignorado dessa forma.”
“Eu achava que não soube criá-lo ‘como um homem’. Eu pensava: ‘será que foi porque deixei ele dormir com as irmãs no mesmo quarto?’ ‘Como eu nunca o vi experimentando os batons delas?’. Cheguei ao ponto de acreditar que, por ter sido mãe solteira e ter tido relações sexuais antes do casamento, estava pagando por algo.”
Sendo o Brasil um país majoritariamente cristão (86% dos lares brasileiros, segundo o Censo de 2010), a dicotomia entre os valores construídos dentro da família e a expectativa frustrada gera conflitos iniciais que resultam em rejeição, preconceito e violência, que permeiam a vida dessas pessoas ao longo de sua existência.
Foi ao buscar a origem desse sofrimento que surgiu o livro “Semente de Vida: Rejeição e Aceitação de Filhos LGBTI+ em Lares Cristãos”, escrito por muitas mãos e com a contribuição de profissionais de diversas áreas, além de pais, mães e cuidadores. A obra analisa a influência do discurso fundamentalista religioso nas famílias e suas implicações políticas, sociais e culturais para toda a sociedade.
O fato é que não faz parte de nenhum projeto de parentalidade, seja cristão ou não, desejar ou se
preparar para um filho LGBTI+. Em uma sociedade hétero-cis-normativa, muitas vezes, os sonhos dos
pais, mães e pessoas cuidadoras para o futuro dos filhos desabam após a descoberta.
Para os autores, a publicação pretende fortalecer as alianças entre o campo progressista e o
campo progressista religioso para interromper o ciclo da rejeição às diversidades sexual e de
gênero e agir em favor da propagação da vida.
Para Gut Simon, comunicador social, bissexual, católico, idealizador do projeto e um de seus coautores, o livro é “um convite a quem não aguenta mais ver crianças e jovens sofrerem pelo que são. Um chamado para que possamos assumir que o que melhor expressa a imagem de Deus, é a diversidade”.