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Sara Rosenberg, em cartaz no MCB, fala sobre o brincar criativo e a arte

Carol Pera

Está em cartaz, a exposição Esculturas Lúdicas – de Sara Rosenberg, no Museu da Casa Brasileira. As obras dispostas em diferentes espaços estão ali para serem tocadas e abraçadas, se tornando um ponto de partida para brincadeiras e histórias.

A exposição é voltada aos diferentes públicos, porém, com viés mais voltados às crianças, visto que elas exploram o lúdico com mais profundidade. Cada uma das peças pode ser explorada em sua multiplicidade de significados e a interação é parte da obra, dando diferentes significados a cada uma delas, um verdadeiro parque das artes.

Tive a oportunidade de entrevistar a artista plástica, designer e arte-educadora, Sara Rosenberg, e falar um pouco sobre sua trajetória, o espaço do brincar, sua arte e como se deu a curadoria dessa exposição. Confira a íntegra.

Fotos: Carol Pera

Carol Pera: Você percebe a carência de espaços que deem o protagonismo às crianças ou mesmo que as estimulem quando falamos em exposições?

Sara Rosenberg: Percebo que as grandes cidades perderam em quantidade e qualidade os espaços para um brincar criativo.  A verticalização da cidade, com o crescimento desordenado e sem um plano diretor que realmente preserve o espaço público e as áreas verdes, acabou não oferecendo espaços seguros para crianças e adultos brincarem.

CP: De que forma você acha que esse contato com a arte pode ser estimulado desde pequeno e quais os efeitos disso?

SR: Acredito que o contato com a arte traz inúmeras possibilidades e oportunidades para o aprendizado, para o desenvolvimento de um olhar crítico e criativo sob a realidade. Os artistas apresentam novos olhares sobre esta realidade e desta forma aprendemos a olhar tudo de forma mais rica, um olhar que propõe a dúvida, outros aspectos e pontos de vista, e isto é fundamental para seguirmos melhorando nosso mundo.

CP: Você descobriu sua vocação/dom bem cedo, visto que aos 7 anos de idade ganhou um concurso de escultura de areia ou, em algum momento, você teve dúvidas do caminho a ser trilhado? Conte um pouco sobre sua trajetória.

SR: O que foi decisivo nesta trajetória após este concurso da Air France, foi a atitude de meus pais de me proporcionar uma escolinha de artes. A grande sorte foi dada por esta escola ser pioneira na arte-educação no país. A diretora desta escola chamava-se Fanny Abramovich, escritora e educadora, que forneceu os alicerces, juntamente com Anna Mae Barbosa, para o que veio a ser a arte -educação no Brasil. 

O fazer artístico nos traz esta oportunidade, para conhecer, para ser curioso, para experimentar e para transformar materiais em expressão. Uma espécie de meditação para encontrar a nós mesmos e ao outro.

CP: Como é para você transitar entre os diferentes tipos de arte, como design de objetos, esculturas e pintura?

SR: Transitar entre a escultura, o design e a arte-educação foi algo sempre natural para mim. Entendo essas três atividades como complementares. Sou apaixonada pela beleza da forma e pelo fazer artístico. Considero que a arte e a vida estão totalmente ligadas e trazer a arte para o cotidiano, para os pequenos detalhes e para os objetos sempre me pareceu muito gratificante. Através da arte, educamos nosso olhar a se maravilhar, a sair do automático e aprendemos a apreciar em profundidade. O artista que teve a oportunidade de aprender a apreciar e de se expressar através da arte deve também apresentar este olhar aos outros, incentivar e trazer mais oportunidades para que outros possam se desenvolver através da ferramenta artística, e isto é arte-educar para a vida. 

CP: Falando agora da exposição Esculturas Lúdicas, que está em cartaz no Museu da Casa Brasileira, e de esculturas suas que estão em espaços ao ar livre, como no projeto Parque Para Todos, você acha que a interação das crianças se intensifica ainda mais com as obras quando estão em espaços mais “livres”? Como você vê esse resultado?

SR: Expor nas áreas internas e externas do Museu, inclusive colocando esculturas na parte frontal do Museu, junto à Av. Brigadeiro Faria Lima, foi uma forma de convidar o público para se apropriar deste maravilhoso espaço cultural, que é o Museu da Casa Brasileira. O MCB está voltado para este objetivo de atrair, incluir e aconchegar todos os cidadãos, pois a cultura pertence a todos. A Instalação de muitas esculturas nos jardins do Museu, além de apresentar cada uma individualmente, criou um espaço de brincar, um local onde as crianças exploram com alegria todas as peças e onde vão aos poucos soltando sua imaginação, criando um verdadeiro espaço de brincar. E ajudar a proporcionar este momento no espaço e no tempo para o brincar coletivo e criativo é para mim uma grande alegria.

CP: Há alguma linha que distingue cada uma das 3 séries (Onda, Ginger e Bichos) expostas no Museu?

SR: Basicamente observo (depois de fazer) que minhas maiores inspirações vêm da natureza vegetal e animal e, também, do universo da arte através dos tempos. Todas as vivencias entram para o “liquidificador do artista”, que processa e sintetiza tudo em suas criações. Para fazer arte é preciso viver, se emocionar, sair do automático e ter a oportunidade de se expressar desenvolvendo alguma ferramenta. 

Então o que a curadora da exposição, Adélia Borges, fez foi ressaltar uma trajetória para mostrar que é possível se expressar com materiais simples, que cada um tem uma trajetória que vai se compondo ao longo dos anos, que cada pessoa é uma em tudo que faz. 

CP: Como se deu o processo de escolha dessas esculturas com Adélia Borges?

SR: A Adélia Borges e o Giancarlo Latorraca, diretor do Museu, priorizaram a escolha das peças que pudessem mostrar o “atelier do artista”, seu processo de criação, dos estudos em argila ao processo de produção das esculturas em fibra de vidro. 

CP: Qual é a intenção de utilizar um material que permite a reprodução em série para suas esculturas?

SR: Meu objetivo é levar as esculturas para todos, para os espaços públicos, brinquedotecas, bibliotecas infantis, etc. tornando-as acessíveis a todas as pessoas -inclusive às que têm necessidades especiais. Reproduzir as esculturas em série torna-as economicamente mais viáveis e, portanto, acessíveis a um público mais amplo. 

CP: Qual a diferença de se pensar uma escultura para adultos ou crianças?

SR: Na verdade, as esculturas são feitas para todos, adultos e crianças A escultura é a mesma, a diferença é a atitude mais interativa das crianças perante ela. A criança explora mais, se solta mais naturalmente através do brincar criativo. Procuro formas que possam ser abraçadas, que aconcheguem. Talvez uma oportunidade no tempo e no espaço, um trampolim para o universo da arte e do brincar imaginativo. 

CP: Há algum novo projeto em andamento?

SR: Estou trabalhando em projetos para itinerar com a exposição pelo país e com novas peças sendo criadas no meu atelier. A nova série de esculturas lúdicas, iniciada na minha residência artística em Berlim, tem como tema o Mangue, um olhar para este ecossistema covardemente atacado pelo descuido humano, pela poluição e pela especulação imobiliária.  Um universo de seres interligados, amalgamados que sobrevivem hoje neste frágil cenário de degradação ambiental.

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