Com a premissa de informação rápida e atualizações diárias ou semanais, a newsletter tem ganhado espaço na rotina dos brasileiros
Por Beatriz França
Ligar o computador, abrir o e-mail e se atualizar das notícias por meio de uma newsletter. Acredite ou não, essa é a rotina de muitas pessoas pela manhã, quando, antigamente, o meio de notícia era um jornal impresso enquanto o café esfriava.
A newsletter é um meio de comunicação que pode ser usado por muitas pessoas, desde um veículo jornalístico até um criador de conteúdo. Esse é um espaço onde algoritmo e limite de caracteres não existem, ou seja, você recebe só os conteúdos que gosta e quem escreve não se preocupa se vai atingir uma pessoa fora do seu ‘nicho’.
José Maurício, professor de comunicação do Centro Universitário das Américas (FAM), acredita que as newsletters têm ganhado espaço na caixa de e-mail porque as pessoas estão “num momento em que os conteúdos são cada vez mais importantes”.
“A newsletter é uma estratégia interessante no quesito produção de conteúdo, né? Que é algo muito importante hoje, sobretudo pras marcas né? Então a gente também vai ver muita muita marca produzindo newsletter justamente por esse lado de conteúdos mais específicos”, fala.
Toni Moraes, escritor e editor, consome newsletter desde 2014 para 2015. Foi com o objetivo de manter-se “informado sobre lançamentos da literatura brasileira contemporânea e para conhecer o trabalho de um jornalismo um pouco diferente da grande mídia” que ele começou a assinar alguns conteúdos por e-mail.
“Minhas assinaturas hoje são basicamente sobre literatura e escrita criativa. Por meio delas me aproximo dos assuntos de interesse de outros autores e autoras, e recebo textos de ficção inéditos ou trechos dos livros em primeira-mão”, conta Toni Moraes, sem esconder a paixão pela literatura.
Josiany Lima, a jornalista e profissional de marketing institucional, é uma consumidora de newsletter desde 2019 e tudo começou devido ao seu trabalho, com a necessidade de estar informada sobre o mercado de varejo, mas logo foi gostando de consumir outros tipos de conteúdos: “Comecei a consumir newsletter quando entrei para o time de assessoria de imprensa de uma grande empresa brasileira no ramo do varejo e precisei assinar esse tipo de conteúdo”.
“Sentia necessidade de me informar sobre mercado e a empresa, mas não me sobrava tempo entre trabalho, família e pós-graduação [que cursava na época], e foi assim que assinei algumas newsletters. Na época que comecei a assinar, eram focadas em varejo e mercado de ações, mas atualmente minhas assinaturas vão desde política até as novidades da Netflix, passando por tendência de hábitos de consumo e mercado de cosméticos”, conta.
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A facilidade de se informar rapidamente
O ano de 2022 fez com que as pessoas buscassem (e filtrassem) os conteúdos que gostariam de consumir. Um dos exemplos, é a The News, uma newsletter diária que promete deixar as pessoas mais inteligentes em cinco minutos, com tudo que “você precisa saber para começar seu dia bem e informado” e sempre às 06:06 da manhã.
A facilidade de abrir o e-mail e saber dos principais destaques do dia ou do assunto que você mais gosta é o principal motivo das pessoas buscarem por esse tipo de conteúdo. Não é preciso passar em banca de jornal, por exemplo.
Toni Moraes acredita que “hoje as pessoas têm cada vez menos tempo e paciência para buscar as notícias” e a assinatura de newsletter acaba sendo uma ótima opção.
“Nem todos têm tempo para buscar notícias e discussões sobre assuntos de interesse, e a newsletter acaba sendo uma ótima opção para segmentar essa informação, afinal, já chega direto na caixa e de acordo com o interesse do leitor. As empresas que investem nessa comunicação se aproximam mais e acabam conhecendo melhor seu público”, explica o escritor.
Mas será que a newsletter pode substituir o jornal? Essa não é uma pergunta que assombra os veículos tradicionais. Por exemplo, o jornal O Estado de S. Paulo dispara diariamente newsletter para os assinantes do jornal impresso. Ou seja, acaba sendo um plus para os assinantes.
Para o professor universitário José Maurício, chamar a newsletter de um novo jornal é “muito arriscado”. “Ela [newsletter] não consegue cumprir, necessariamente, a função de um jornal. Por mais espaço que tenha, não é possível se aprofundar tanto nos assuntos como em um jornal”, explica.
Pacto pela credibilidade
No período de eleição em 2022 foi possível notar o crescimento de newsletter mostrando o que era ‘fato ou fake’ nas campanhas eleitorais. Antes disso, Josiany Lima já tinha um método de evitar cair em fake news — e isso inclui a newsletter e os portais de notícia.
“Faço um mix dos dois formatos [news e portais]. Como assino newsletter nas quais confio, isso minimiza meu acesso a fake news, que é um ponto pela qual sempre indico nas news. Costumo receber as newsletter das 6h às 8h, então virou parte da minha rotina ler antes de começar a trabalhar e pesquiso ao longo do dia o que mais chamou minha atenção — isso me leva aos portais”, conta a jornalista.
Ela ainda complementa que a newsletter pode sim ser uma ‘boia salva vidas’ para quem busca informação de qualidade e analisa esse tipo de conteúdo como algo muito importante: “Vivemos em um momento intenso de polarização em tantas vertentes para além da política e ter uma ferramenta que nos blinda de falsas informações é quase um acalanto”.
Já o professor José Maurício acha a newsletter “interessante” no momento de combate às fake news. Da mesma forma que ela pode ajudar a combater, também pode espalhar informações falsas e sem nenhum embasamento.
“Quando pensamos em conteúdo jornalístico estamos falando de jornalismo ético, que é construído com base em fontes. É importante trazer os fatos, desde que tenham fontes confiáveis. Mas, assim como existem os portais que disparam fake news, na produção de newsletter também pode ter um profissional mal intencionado e usar esse meio para propagar informações falsas — e esse é um ponto a se pensar”, explica.
Por fim, Jô Lima acredita que a busca por newsletter e o aumento nas assinaturas desse tipo de conteúdo também está ligado ao crescimento das fake news. “Filtrar os canais em que mais confia para consumir notícias é um ato de responsabilidade social nos dias de hoje. Investir em conteúdo útil e seguro também ajuda na construção de uma marca/empresa confiável”, conclui a jornalista.