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Fantasma do despertencimento assombra no delicado “Passagem”

Diretora de séries como “Maid” e “Sexual Lives of College Girls” estreia no comando de longas com um filme sobre sobre seres humanos quebrantados e suas circunstâncias

Por Reinaldo Glioche

Jennifer Lawrence certamente é uma das estrelas mais famosas do planeta atualmente, mas quando comprometida com um projeto tão cheio de camadas como “Passagem”, ela mostra porque também é uma das atrizes jovens mais promissoras e celebradas do cinema americano contemporâneo.

O longa independente lançado na plataforma de streaming Apple TV+ é o primeiro trabalho no cinema de Lila Neugebauer, mas não dá para dizer. Seu filme não só respeita o tempo dos personagens, uma raridade no audiovisual atual, como observa com candura o desabrochar de uma amizade patrocinada pelo onipotente sentimento de despertencimento que permeia a existência de Lynsey (Lawrence) e James (Brian Tyree Henry).

Ela, uma veterana do exército que voltou do Afeganistão depois de ser atingida por explosivos e ter profundos traumas na região cerebral; ele, que perdeu uma perna em um acidente em que também perdeu pessoas que amava.

Tudo em “Passagem” reforça essa transitoriedade permanente de quem vive em constante fuga – de si e dos outros. Não há grandes inflexões no filme, o que talvez contamine a percepção de uns sobre ele, mas há grande cenas e duas performances tão comprometidas com a verdade de seus personagens que são capazes de provocar genuína comoção. Lawrence não surge tão bem na tela desde “O Lado Bom da Vida”, o filme que lhe rendeu o Oscar e Henry, um ator tão espetacular quanto despercebido, faz por merecer o burburinho que já desperta para o próximo Oscar.

“Passagem” acaricia seus personagens lembrando-os da própria transitoriedade da vida e de como a cura, ou sua perspectiva, às vezes, pode residir no fato de que você não está fodido sozinho nesse mundão de meu Deus.

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