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Lia D Castro ganha exposição no MASP com foco no afeto como força de transformação social

Redação Culturize-se

A partir do dia 5 de julho, o público poderá visitar a exposição “Lia D Castro: Em Todo e Nenhum Lugar” no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). Esta é a primeira mostra individual da artista no museu, apresentando 36 obras, majoritariamente pinturas figurativas. As peças selecionadas investigam cenários onde o afeto, o diálogo e a imaginação emergem como ferramentas essenciais de transformação social.

O título da exposição reflete a ausência histórica de grupos minoritários em posições de poder — “em nenhum lugar” — e, simultaneamente, a presença e força de trabalho desses grupos que sustentam a sociedade — “em todo lugar”. Curada por Isabella Rjeille, curadora do MASP, e Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, a mostra abrange a produção completa da artista.

Exposição no MASP celebra legado de Lia D Castro

Lia D Castro utiliza a prostituição como ferramenta de pesquisa, desenvolvendo sua produção a partir de encontros com clientes — majoritariamente homens cisgêneros, brancos, heterossexuais e de classe média e alta. Seu trabalho subverte as relações de poder ou violência que possam surgir, combinando histórias de vida e história social. Em seus encontros, a artista aborda temas como masculinidade, branquitude, afeto, cuidado e responsabilidade, resultando em pinturas, gravuras, desenhos, fotografias e instalações colaborativas.

Durante essas interações, Lia questiona seus interlocutores: “Quando você se percebeu branco? E quando se descobriu cisgênero, heterossexual?” A artista não busca respostas definitivas, mas sim provocações que incentivem um posicionamento sobre questões raciais, de gênero e sexualidade.

Referências intelectuais e artísticas

As conversas com seus clientes são permeadas por referências a importantes intelectuais negros, como Frantz Fanon, Toni Morrison, Conceição Evaristo e bell hooks. Trechos dos livros desses autores são inseridos nas obras de Lia, mesclando-se com gestos, cenas, cores e personagens. “Partindo da visão de Frantz Fanon de que o racismo é uma repetição, eu proponho combatê-lo com a repetição de imagens”, comenta a artista. Ao incluir uma obra dentro de outra, Lia D Castro busca criar novas referências estéticas.

Leia também: Artista discute passado escravagista de Nova York em série de fotografias

A maior série apresentada na exposição é “Axs Nossxs Filhxs”, desenvolvida no ateliê e sala de estar da artista. Este espaço de encontro e troca, tanto comercial quanto intelectual e afetiva, destaca-se pelo processo criativo coletivo, desde a escolha das cores até a assinatura das obras. A repetição é um elemento central, permitindo reconhecer gestos, personagens e situações recorrentes. A utilização do “x” no título refere-se à diversidade de formações familiares e vínculos afetivos, indo além do parentesco consanguíneo ou da família heterossexual monogâmica.

Foto: Camila Guermandi

Lia D Castro também se retrata em pinturas dessa série, desafiando a tradição histórica da pintura ocidental. Enquanto os homens estão nus, a artista aparece vestida, com seu corpo coberto por esparadrapos que formam um longo vestido branco. “O caráter político da obra de Lia D Castro questiona o imaginário social que vincula violência e subalternidade a corpos não hegemônicos na arte ocidental”, afirma Glaucea Helena de Britto.

A exposição “Lia D Castro: Em Todo e Nenhum Lugar” integra a programação anual do MASP dedicada às histórias da diversidade LGBTQIA+. Além de Lia, a programação inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, Mário de Andrade, Catherine Opie, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da Diversidade LGBTQIA+.

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