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Aumenta que é Rock n´Roll! Filme aborda rádio rock pioneira no País

Tom Leão

Estava de férias na semana de estreia deste filme e, quando voltei, três semanas depois, ele estava só numa sessão noturna. Parece que não foi bem de bilheteria, infelizmente. Assim, acabei vendo no VOD. Ainda que não seja um grande filme (mas, é bacaninha), ‘Aumenta que é Rock´n´Roll!’ (disponível no streaming Globoplay), é uma divertida comédia romântica (sim, é), que usa como base o livro ‘A Onda Maldita’, de Luiz Antonio Mello, para contar a história do surgimento da lendária rádio Fluminense FM (94,9Mhz), de Niterói/RJ, da qual Luiz Antonio foi o diretor, por duas vezes.

A quem interessaria essa história? A muita gente. Afinal, foi através de fitas demo tocadas na rádio, que bandas hoje renomadas, como Paralamas, Legião Urbana (que ‘aparecem’ no filme, além de Cazuza), Plebe Rude, Capital Inicial, Kid Abelha, e tantas mais (também o falecido bluesman Celso Blues Boy, cuja música dá nome ao filme), tiveram a sua primeira chance e, por causa disso, acabaram chamando a atenção de gravadoras. Muitas fitas foram criminosamente apagadas, para gravar spots!.

Cena do filme ‘Aumenta que é rock´n´roll!’
Foto: Divulgação

  Aliás, o filme (dirigido por Tomas Portella, diretor da série ‘Impuros’, do streaming Disney+) se passa num recorte de tempo, entre 1982 — quando a antiga Difusora Fluminense deu lugar a ‘Maldita’ (como a rádio era conhecida e chamada por seus fãs) — e 1985, época do primeiro (e histórico) Rock in Rio, mostrando os primeiros passos na carreira do jornalista Luiz Antonio (Johnny Massaro, muito bem no papel), que, junto com o amigo Samuca (o precocemente falecido Samuel Wainer filho, no filme, feito por George Sauma, nada parecido) tiveram a ideia de fazer uma rádio que só tocasse rock. Não foi fácil convencer o dono da rádio, que fazia parte do Grupo Fluminense de Comunicação, no qual o mais importante era o jornal ‘O Fluminense’ (que ainda existe). Mas, como a rádio só dava traço, o dono liberou a experiencia. Que, demorou, mas emplacou. No Rio, existiu antes, a Eldo Pop FM, que só tocava rock progressivo. Sem locução.

  Além disso, a Fluminense FM foi a primeira rádio do Brasil a ter exclusivamente locutoras mulheres, o que chamou a atenção (e, depois, virou padrão). Quando monta a equipe, no filme, Luiz Antonio fica encantado com Alice (Marina Provenzzano), e o romance entre eles vai crescendo aos poucos. No filme, não há destaque para nenhuma locutora em especial (a fictícia Alice sintetiza várias delas). Mas, vale lembrar que, foi da Flu FM, que saíram nomes conhecidos, como Monika Venerabile (que virou referência em locução de rock, criando várias imitadoras pelo país), Liliane Yussim (que, depois, foi trabalhar no jornalismo da Globo) e Milena Ciribelli (hoje, conhecida como apresentadora de programas esportivos na TV).

  O filme mostra tudo isso de forma ligeira (Mauricio Valladares, muito importante nesta primeira fase, sequer é citado), tendo como pano de fundo as coisas que aconteciam no Brasil, que ainda vivia sob um regime de ditadura militar, até chegar na abertura ‘pro dia nascer feliz’, como Cazuza cantou, simbolicamente, no primeiro Rock in Rio, justamente no dia em que Tancredo Neves, o primeiro presidente pós-ditadura, foi eleito. O roteiro do ‘fera’ LG Bayão equilibra tudo isso (história da rádio, romance, fundo político) muito bem. Pena que o filme não soube encontrar o seu público. Não sabemos se por causa do título, um tanto genérico (não é um musical, mas parece), ou do cartaz, que parece vender uma comedia romântica (que até é).

  Seja como for, é um filme algo obrigatório para quem quer conhecer, como insider (o próprio LAM, como Luiz Antonio é conhecido, aparece numa das primeiras cenas como um popular comentando a morte de uma mula) a trajetória da ‘Maldita’, que, na virada dos anos 80 para os 90s, infelizmente, não soube acompanhar as mudanças do rock — seus programadores tinham preconceito contra o som de bandas como Faith no More, Nirvana, Ministry e Metallica, por exemplo, e perdeu o bonde da história. Em meados dos anos 90 teve um triste fim, alugando sua frequência de 94,9 FM para a pop farofa Jovem Pan de SP. Depois, marcou época como a primeira casa carioca da Band News FM. Hoje, está alugada para uma rede religiosa. LAM, nos 90s, criou o jornal ‘Rock Press’ e, hoje, é muito ativo na internet.  

No começo dos 90s, tive um programa lá, o ‘HellRadio’ (segundas, 20h), junto com André X (baixista da Plebe Rude), que incomodava bastante (o dono, chegou a nos despedir, mas chamou-nos de volta, pela grande audiência do programa, que resultou numa avalanche de cartas pedindo nossa volta), por tocar um som muito ‘barulhento’ e ‘dance’ (como eles chamavam o Ministry e o Nine Inch Nails, só por serem eletrônicos!!!). Depois, fiz parte do ‘MacHawk’, junto com Guto Jimenez, programa de skate-rock (éramos skatistas); e, por fim, por um breve tempo, fui o Bucaneiro Fantasma — num programa que fazia de casa, montado em fita cassete com efeitos especiais de um Casiotone e VHS –, a pedidos do LAM, porque eu fazia críticas à rádio no ‘Rio Fanzine’. Foi divertido enquanto durou.

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