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O novo ciclo da direita no mundo

Por Redação Culturize-se

group of women holding banners supporting donald trump during the election
Foto: Pexels

A alardeada vitória da esquerda nas eleições para o parlamento na França resultou no empoderamento da direita. Difícil de entender? Como nenhum partido obteve maioria, foi preciso lançar mão de negociações para a indicação do primeiro-ministro. Após dois meses de impasse, Macron nomeou Michel Barnier, um político conservador para o posto de premiê. Embora seja percebido como um movimento do presidente francês para conter o ímpeto da esquerda e controlar a extrema-direita, o fato é que a direita dobrou o número de cadeiras no parlamento e tornou-se uma força balizadora na França.

A ascensão da direita na Europa se dá até mesmo em países como a Alemanha. O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) venceu as eleições na Turíngia e chegou em segundo lugar na Saxônia, dois estados no território que, até a unificação em 1990, pertencia à Alemanha Oriental. O AfD obteve por volta do triplo dos votos somados dos partidos da coligação que apoia o primeiro-ministro social-democrata, Olaf Scholz. É a maior vitória da extrema direita na Alemanha desde a queda do nazismo. A conservadora União Democrata-Cristã, que venceu na Saxônia e chegou em segundo na Turíngia, deve liderar o governo nas duas regiões.

A Inglaterra não chega a ser um contraponto. Embora o Partido Conservador tenha sofrido uma das maiores derrotas de sua história e visto os trabalhistas retomarem o poder após 14 anos, a decepção com o Brexit é algo muito peculiar do ambiente político-econômico britânico.

Nos EUA, Donald Trump é favorito para voltar à Casa Branca; embora por margem menor agora que enfrenta Kamala Harris do que era contra Joe Biden. Ainda assim, o vigor do trumpismo desafia as análises titubeantes de comentaristas políticos de todas as matizes.

Para além da percepção de que políticos de direita conduzem melhor a economia, algo que não é essencialmente novo, mas que fica mais evidenciado em tempos de crise econômica e deformidade do consumo, há uma tendência que beneficia a direita na guerra cultural: a esquerda virou establishment e suas pautas, com o caudilho da cultura do cancelamento e da ditadura da correção política, empurram o eleitor à direita.

A direita, principalmente a extrema-direita, domina os códigos da pós-verdade com mais propriedade e consegue subjugar a esquerda, entregue à arrogância, mesmo em setores tradicionalmente ligados à esquerda. Caso do funk, no Brasil. A ideia da direita como antissistema vingou – basta ver a embalagem do bolsonarismo, do trumpismo e do recente sucesso da candidatura de Pablo Marçal em São Paulo.

O colunista de Culturize-se, Edson Aran, recentemente se deteve à análise de outro fenômeno recente que dimensiona esse novo ciclo da direita no mundo: o jovem de direita. “Se a juventude for pra direita, a quem caberá a defesa das mudanças sociais? Aos velhos?”, provoca. “A história precisa funcionar de maneira organizada. Cabe ao jovem propor ideias inovadoras que façam o mundo avançar. Cabe ao velho se opor a elas e lamentar as mudanças sociais”. Um jovem de direita, advoga Aran, “é uma contradição em termos, um anacronismo, um anagrama, um anacoluto, um troço esquisito demais da conta”.

Em doutorado defendido na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, a psicóloga Beatriz Besen revelou uma paisagem complexa de identidades políticas. Sua pesquisa, conduzida ao longo de quatro anos, lançou luz sobre as trajetórias e discursos de jovens, indicando que a diversidade de percursos e identidades políticas entre os jovens “desafia noções simplistas e estereotipadas”, sumariza a autora.

Ao analisar o ativismo da juventude nos movimentos de direita radical como um fenômeno que desafia e, ao mesmo tempo, sinaliza transformações democráticas no século 21, a psicóloga identificou a participação como um caso de “participação liminar”. Essa liminaridade, conforme descrita no trabalho, refere-se a uma experiência política que combina práticas reconhecidas como democráticas com agendas e estratégias não reconhecidas como tais. A pesquisa observou, ainda, que o jovem de direita é mais atuante do que o de esquerda fora do eixo das redes sociais.

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