Redação Culturize-se
A relação entre o funk paulistano e as eleições municipais de São Paulo em 2024 trouxe à tona divisões significativas dentro do gênero musical. Duas das maiores produtoras de funk, Love Funk e GR6, tornaram-se foco de controvérsia ao manifestar apoio a candidatos do campo conservador, como Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB). Esse apoio desencadeou uma onda de críticas entre artistas, como MC Hariel, Mano Brown e Filipe Ret, que expressaram preocupação com a aliança entre o funk, tradicionalmente associado à periferia e às lutas sociais, e políticos que eles consideram desconectados dessas realidades.
A polêmica começou quando vídeos de visitas de Marçal e Nunes às respectivas produtoras foram divulgados nas redes sociais, gerando reações acaloradas. Marçal, por exemplo, foi criticado por comentários anteriores depreciando a qualidade das músicas do funk, o que fez com que muitos vissem sua aliança com a Love Funk como um movimento puramente estratégico para angariar votos.
Artistas como MC Hariel, que têm uma grande influência nas redes sociais, foram rápidos em expressar sua desaprovação, alertando seus seguidores sobre o que veem como uma tentativa de manipulação por parte desses políticos. Hariel, em particular, destacou o perigo de permitir que figuras políticas se apropriem do movimento funk para fins eleitorais, comparando-os a “lobos em pele de cordeiro”.
A situação foi ainda mais complexa com a participação de outros artistas e figuras do rap, como Mano Brown e Djonga, que também se pronunciaram contra o que consideram uma instrumentalização do funk e do rap por políticos de direita. Djonga, por exemplo, lamentou o fato de que gêneros musicais historicamente marginalizados estejam sendo usados para apoiar “posições políticas decadentes”.
Por outro lado, figuras como Henrique Viana, o Rato da Love Funk, e Rodrigo Oliveira, da GR6, defenderam suas escolhas, argumentando que suas parcerias com políticos visam beneficiar as comunidades que servem. Viana, em particular, enfatizou o impacto positivo que sua produtora teve na vida de muitos jovens da periferia, oferecendo oportunidades no mundo da música.
A polêmica levantou questões mais amplas sobre o papel do funk na política brasileira e a responsabilidade das produtoras e dos artistas dentro desse cenário. Para muitos, o envolvimento de figuras do funk com candidatos de direita representa uma desconexão preocupante com as raízes sociais do movimento. Outros, no entanto, veem essas alianças como uma forma pragmática de garantir recursos e apoio para a comunidade.
Essa cisão no funk destaca a crescente importância do gênero na política brasileira, mas não sem cristalizar a percepção de que a direita hoje ocupa um espaço antissistema que durante décadas pertenceu à esquerda. A forma como essas tensões se desenrolam pode ter implicações duradouras para a relação entre a música, a política e as comunidades periféricas no Brasil.