Edson Aran
A eleição para o novo Parlamento Europeu levou todo tipo de direita ao poder. Da direita-mais-ou-menos, que proíbe a filha de usar minissaia, à direita-de-extrema-direita, que deseja explodir o mundo para salvar a civilização.
Os analistas políticos brasileiros, sempre muito otimistas, costumam chamar esse tipo de fenômeno de “Onda Conservadora”. Né não, nalistas. Isso não é “onda”, está mais para “Maremoto Conservador”. “Tsunami Totalitário”. “Dilúvio Direitista”.
Na Europa, a gente até entende. Todos sabemos que o Velho Mundo é uma terra de brancos odiosos que inventaram a democracia, o iluminismo e a renascença, mas também o queijo fedido, o chá com gosto de água fervida e a série “Dark”, que é chata pra cacete.
O problema é que a “Enchente Extremista” também está provocando cheias nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil. A coisa acontece pra todo lado.
O mais curioso nesse fenômeno é o surgimento do Jovem de Direita, o que, para mim, é uma criatura tão inexplicável quanto a Hidra ou Hipogrifo. Jovem tem que consumir substâncias ilícitas, transar feito doido, dormir no sleeping bag, escutar música ruim e sonhar acordado com o alvorecer socialista.
Afinal, se a juventude for pra direita, a quem caberá a defesa das mudanças sociais? Aos velhos? Ah, não vai dar, meu filho, sinto muito. Velho não tem fôlego pra correr da polícia e nem força pra jogar coquetel molotov nas forças da opressão. Velho gosta é de falar de vinho, fumar charuto, tomar scotch e assistir filme de ação dos anos 80. Velho não tem ânimo sequer para sair em passeata, pois fica o tempo todo reparando nos conhecidos: “Nossa… como o Jurandir está acabado! Eu estou bem melhor, não estou?”
A história precisa funcionar de maneira organizada. Cabe ao jovem propor ideias inovadoras que façam o mundo avançar. Cabe ao velho se opor a elas e lamentar as mudanças sociais.
Um Jovem Direitista é, portanto, uma contradição em termos, um anacronismo, um anagrama, um anacoluto, um troço esquisito demais da conta.
Mas tenho uma tese que talvez explique esse fenômeno bizarro. É assim. A Esquerda do Terceiro Milênio ficou pentelha, ranheta e intransigente. Ela proíbe palavras, inibe comportamentos, impõe pronomes, patrulha pessoas, exige autocensura, discrimina fenótipos, promove clichês e estimula o comportamento de manada com cancelamentos e exclusões arbitrárias. Se a Esquerda ficou autoritária e antiliberal, o que faz o Jovem Cabeça Oca? Vota na Direita, uai.
A Direita é a nova Contracultura, olha só perigo da coisa!
Eu, se dependesse do voto popular para me arrumar na vida, batalharia dia e noite pela criação de um Partido Realmente de Esquerda Anti-Direita e Anti-Esquerda-Que-Se-Comporta-Como-Direita, o PREADAEQSCCD+.
Mas eu não vou mudar o mundo com a força das minhas ideias, então prefiro falar de vinho, fumar charuto, tomar scotch, assistir filme de ação dos anos 80 e ficar reparando nos conhecidos: “Nossa… como o Vandernílson está acabado! Eu estou bem melhor, não estou?”