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Jessica Lange e a aposentadoria de grandes atores

Reinaldo Glioche

Quando Al Pacino se embaralhou na hora de apresentar indicados e vencedor da estatueta de Melhor Filme na última cerimônia do Oscar muita gente comentou sobre os sinais de senilidade que emanavam da situação. Al Pacino atualmente está com 83 anos e, embora tenha diminuído sensivelmente seu ritmo de trabalho, segue atuando.

Não é o caso de alguns contemporâneos como Gene Hackman e Al Pacino, que já estão aposentados há mais de 10 anos e não dão sinais de que contemplem interromper a aposentadoria por um ou outro projeto, embora surjam boatos nesse sentido de quando em quando.

Mais recentemente esse movimento atingiu o ator britânico Daniel Day Lewis, 66, que se aposentou depois de lançar longa “Trama Fantasma”, em 2017. Day Lewis sempre foi um ator bissexto, mas tinha intensificado seu ritmo de trabalho nos anos anteriores ao longa que, até o momento, resiste como o último de sua carreira.

A aposentadoria de grandes atores é uma espécie de tabu em Hollywood. É como se não fosse possível decidir se aposentar em uma carreira tão abençoada. Mas há controversas. Recentemente a atriz Jessica Lange verbalizou uma insatisfação muito grande com o estado das coisas.

Jessica Lange
Foto: Reprodução/Volture

Em uma entrevista publicada no The Telegraph, a vencedora do Oscar disse que quer desistir da atuação porque a indústria está mais focada no lucro do que na qualidade artística. “Não estou interessada nesses grandes filmes de franquia de HQs. Acho que eles sacrificaram essa arte com a qual estivemos envolvidos… em prol do lucro.”

Lange, 74, disse ao jornal que está planejando se aposentar em um futuro próximo. “A criatividade é secundária agora em relação aos lucros corporativos”, disse ela. “O foco deixa de ser a arte, o artista ou a narrativa. Passa a ser sobre satisfazer seus acionistas. Isso diminui o artista e a arte da produção cinematográfica.”

O descontentamento de Lange, se é revelador dos rumos de Hollywood, é, também, um sinal de que o tal tabu pode estar sendo subvertido. Muito em virtude, talvez, da percepção de que o trabalho já não é tão abençoado assim.

A também oscarizada Meryl Streep, 74, não faz um filme para cinema desde “Adoráveis Mulheres” (2019). “Não Olhe Para Cima” (2021) era uma produção da Netflix. Embora não avente a possibilidade de se aposentar, a atriz tem feito menos trabalhos e focado mas no streaming e nas séries – como “Extrapolations” e “Only Murders in the Building”.

Outra atriz veterana, Angela Bassett, 65, também viu suas chances diminuídas no cinema e vocalizou, na ocasião da estreia da sequência de “Pantera Negra”, em 2022, que Hollywood força com que atrizes veteranas contemplem a aposentadoria.

No início do mês, em entrevista durante a turnê promocional de “Duna: Parte II”, a atriz francesa Lea Seydoux, que tem empilhado cada vez mais papeis em Hollywood, disse “ser mais fácil ser uma atriz europeia porque Hollywood é dura demais com as mulheres”.

“É difícil para as mulheres envelhecerem. Não quero ter medo de não ser desejável ou de perder meu contrato. Nos EUA, é econômico, e quando se torna uma questão de ganhar dinheiro, você perde sua liberdade”, observa a francesa. “Tenho mais liberdade porque sou uma atriz europeia, o que me convém”, continuou Seydoux. “Não estou tentando ser popular, estou apenas tentando me divertir. Nos EUA, você tem que se conformar. Não quero me adaptar ao sistema, quero que o sistema se adapte a mim!”

Como pode se ver, são muitos os fatores que circulam uma aposentadoria em Hollywood. Do desencanto com a profissão ao cansaço natural passando pela desigualdade entre os gêneros. O ponto vital, no entanto, parece ser a percepção cada vez mais forte de que Hollywood já não é mais aquele eixo de sonhos no audiovisual.

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