Por Reinaldo Glioche
Sucesso no Festival de Sundance, “Fale Comigo” chega aos cinemas brasileiros com o hype de melhor filme de terror do ano – e até o momento é mesmo. O longa dos irmãos Danny e Michael Philippou tem um artefato tão instigante quanto a serra elétrica de “O Massacre da Serra Elétrica” e a máscara do Ghostface de “Pânico”, uma trama muito bem azeitada e que dialoga, tanto quanto critica, a Geração Z e uma narrativa que mescla drama e choque com desenvoltura – algo similar ao que o saudoso William Friedkin tão bem fez no histórico “O Exorcista”.
A produção australiana de baixo orçamento tem um prólogo daqueles que colocam a audiência em xeque – e os diretores disseram que já filmaram uma prequela sobre aquela cena, algo que pode ou não estar na sequência já confirmada pela A24, estúdio que comprou os direitos do filme e irá financiar a sequência.
“Fale Comigo” segue um grupo de amigos que se tornam obcecados em entrar em contato com os mortos depois de aprenderem a conjurar espíritos usando uma mão embalsamada. No centro da ação está Mia, interpretada pela ótima Sophie Wild, uma adolescente que está se recuperando da perda da mãe, que pode ou não ter se suicidado, e busca abrigo emocional com a amiga Jade (Alexandra Jansen), que está namorando um garoto com o qual Mia teve algum envolvimento.
A suscetibilidade de Mia à possessão demoníaca – e seus efeitos – é algo trabalhado pelos irmãos Philippou com sutileza e assertividade ao longo do filme, tornando-o também um comentário insidioso sobre depressão.
Embora o longa crie as bases para o que pode vir a ser uma franquia – seria a segunda de terror da A24, que também desenvolve uma a partir do sucesso de “X – A Marca da Morte” (2022) – essa não é a preocupação primária aqui. Os Philippou investem na construção de uma atmosfera de medo e expectativa para sedimentar uma trama que sabe se apresentar imprevisível, embora seja eminentemente convencional. Trata-se de uma sagacidade narrativa que reforça a qualidade da direção dos irmãos.
“Fale Comigo” é, portanto, uma elaboração muito inteligente de gênero, que manipula os clichês de maneira despudorada, propondo bem-vindas intertextualidades que o elevam no panteão do terror sem desvinculá-lo do viés de entretenimento fácil para as massas. É cinema que dá gosto de ver!