Com o modelo de negócio do cinema em risco sem precedentes, um conflito motivado por ressentimento pode ressignificar estratégias de produção de blockbusters e apontar um futuro mais sustentável para o cinemão
Redação Culturize-se
Historiadores e analistas da indústria certamente irão se debruçar sobre a batalha de memes entre “Barbie” e “Oppenheimer” por algum tempo. Em uma época em que as salas de cinema mal estão se sustentando, e os estúdios inevitavelmente estão se voltando para blockbusters e filmes focados em propriedades intelectuais, Christopher Nolan e Greta Gerwig conseguiram a proeza de orientar as obsessões escapistas de verão de Hollywood com um viés característico da cena indie.
No cerne da disputa Barbenheimer está o diretor Christopher Nolan e a Warner Bros. Discovery. Após a decisão unilateral da última de lançar “Tenet” nos cinemas e em seu serviço de streaming, a HBO MAX, no mesmo dia, em 2020, Nolan decidiu romper sua parceria longeva e bem- estabelecida com o estúdio. Depois de abrigar-se na Universal, que lança “Oppenheimer”, Nolan viu sua antiga morada programar o lançamento do blockbuster “Barbie” para o mesmo dia. E lá se foram 14 meses de muita ansiedade, especulação, picuinha e memes. A coisa foi ganhando vida própria e o Fenômeno Barbenheimer certamente fala de um momento cultural singular em nosso tempo.
Rivalidades e ressentimentos
Não é a primeira vez que a cultura pop se alimenta de rivalidades assim. Em 2007, Kanye West lançou o álbum “Graduation” e 50 Cent lançou o álbum “Curtis”, ambos previstos para serem lançados em 11 de setembro. A data de lançamento no mesmo dia foi tratada como uma oportunidade de marketing por ambos os artistas. Isso foi como o ringue de boxe da música e a capa da Rolling Stone com Kanye e 50 Cent frente a frente solidificaram isso como um momento cultural.
Mais recentemente, Johnny Depp lançou um álbum de música ao término de seu processo judicial muito público com Amber Heard. O objetivo principal é motivar o consumismo em massa, onde as vendas de ingressos equivalem a votos na noite das eleições ou pontos em uma partida esportiva.
Embora de maneira comedida, Nolan já expressou em mais de uma oportunidade sua frustração com a disposição da Warner de lançar “Barbie” no mesmo final de semana de seu longa, mas embora esteja muito claro que na batalha da bilheteria, o pai da bomba atômica perde para a boneca, o combo tem se mostrado positivo para ambas as partes.
Ainda assim, há um latência indesviável: Barbenheimer tem o potencial de causar um impacto significativo na indústria cinematográfica, onde o título predominante pode fornecer insights sobre o futuro.
Rivalidades e rumos
A dicotomia Barbie-Oppenheimer também suscita outras representações no âmbito do cinema. Christopher Nolan definitivamente se promoveu como um campeão do passado, permanecendo fiel à filmagem em película, de certa forma romântico com seus ideais e um manipulador do tempo. É um cineasta com envergadura suficiente para lançar um filme de 3 horas sem CGI e super-heróis na mais concorrida temporada do cinema americano, sem prescindir de engenho e autoralidade.
Greta Gerwig possui uma filmografia mais lúdica e rebelde. Ela desconstrói personagens, estruturas narrativas e a forma cinematográfica para revelar uma mensagem mais profunda por trás do filme em si. As comparações são infinitas: liberalismo versus conservadorismo, pós-modernismo versus modernismo, feminismo versus “filmes de menino”.
O forte contraste entre os dois filmes reflete a natureza polarizada da mídia e da sociedade no século 21. Natural que a competição se cristalize como entretenimento. E essa ideia é enfatizada através da onda de memes usando imagens de Barbenheimer para destacar humores ou ideias contrastantes. Barbenheimer e as reações meméticas ao evento cultural representam as noções concorrentes dentro de nós mesmos como uma resposta à polarização ao nosso redor, uma compartimentalização de nossas diferentes personalidades e interesses.