Hollywood vive ansiedade fora do normal pelo desempenho comercial de uma trinca de filmes diferentes entre si, mas que podem apontar novos rumos para o cinema americano
Reinaldo Glioche
O cenário é o almoço dos indicados ao Oscar no início do ano e a cena é um abraço efusivo de Steven Spielberg em Tom Cruise: “You saved Hollywood´s ass!”. Nem mesmo seis meses se passaram desse episódio e Hollywood já precisa ser salva novamente.
O sucesso arrebatador – e até certo ponto inesperado – de “Top Gun: Maverick” embalou otimismo em Hollywood com o resgate da “experiência da sala de cinema”, após o reboliço causado pela pandemia. Os lançamentos de 2023, porém, têm decepcionado no box office.
O modelo de blockbuster hollywoodiano, sequestrado pela fórmula Marvel, em que todo mundo passou a ter um universo compartilhado, já estava no divã. O próprio Spielberg, com a ascensão do streaming, cravou que o cinema seria palco de filmes que promovessem o espetáculo e os tais filmes adultos, de orçamento mais modesto, estariam relegados ao streaming e lançamentos tímidos em arthouses.
O fracasso de sequências e reboots como “Flash”, “Quantumania” e o novo “Indiana Jones” demonstram enfaticamente duas coisas. Há mais critério por parte da audiência que não parece disposta, diante das opções propostas pelo streaming, de engolir qualquer coisa que os estúdios apresentem no piloto automático, independentemente de quanto custe esses “espetáculos” – e eles estão cada vez mais caros; o novo “Indiana Jones” custou a bagatela de U$ 300 milhões.
O segundo aspecto está diretamente relacionado ao próprio modelo de blockbusters, em que propriedades intelectuais geram filmes óbvios que geralmente são vendidos pelo marketing de maneira muito similar, enquanto filmes genuinamente interessantes são cada vez menos produzidos. Basta olhar para a temporada do verão americano das décadas de 80, 90, 00 e dos últimos 13 anos. Há uma pasteurização latente e uma decadência fugaz.
Há salvadores da pátria?
Não ajuda, claro, a pressa em determinar o fracasso de um filme. Não é de hoje que “apenas o primeiro fim de semana importa”, mas em uma lógica de estimativas e riscos calculados, eles importam cada vez mais em face dos orçamentos inflamados.
É neste contexto ruidosamente adverso e de muita pressão que Tom Cruise surge novamente como salvador da pátria. Um dos poucos astros da Hollywood atual a fazer grandes filmes em cima de sua persona e não de uma propriedade intelectual, Cruise lança no dia 12 de julho o sétimo “Missão: Impossível” e embora esta seja uma franquia, ela tem muitas peculiaridades que nem mesmo os filmes de James Bond conseguiram sustentar na era pós-Bourne.
“Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1” representa a esperança de que franquias bem costuradas, com um controle criativo rígido e vinculadas ao star power ainda são viáveis. “Top Gun: Maverick” ia na mesma linha, mas tinha o componente nostalgia como fator de desequilíbrio.
“Barbie” navega nessas mesmas águas. Tem nostalgia, tem talento criativo notável envolvido e não é tão caro quanto os flops da temporada. O longa representa a esperança para aqueles que acreditam que aproveitar propriedade intelectual estabelecida, mas não muito desgastada, pode ser uma direção criativa válida. A nostalgia também joga a favor aqui, assim como no caso de “Top Gun”.
Há, ainda, “Oppenheimer”, a esperança dos românticos. Para aqueles que querem acreditar que um estúdio entregando uma montanha de dinheiro para um diretor de primeira linha fazer algo completamente fora da curva ainda é um risco que merece ser tomado. Vale o registro que o filme de Christopher Nolan custou três vezes menos que “Indiana Jones e o Chamado do Destino”, o que enseja uma outra análise em caso do sucesso do filme.
Podemos estar diante de um redimensionamento dos blockbusters em Hollywood. A saturação da Marvel e os orçamentos inchados podem resgatar um espírito mais empreendedor por parte dos estúdios, dispostos a correr mais riscos, já que a fórmula do sucesso não entrega mais tantos sucessos assim.
O conjunto desses três filmes, no crivo dos executivos de Hollywood, irá ditar como o modelo de blockbusters no cinema americano irá se resolver no médio e longo prazo. É muita responsabilidade, mas as oportunidades florescem de crises como essa.