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Carta aberta à minha amiga ansiedade

Patrícia Froelich

Olá, amiga de longa data. Quantas pessoas você tem visitado ultimamente? Sei que você aparece sem aviso prévio e por vezes numa intensidade que faz o peito doer, causa tontura, tensão, dor de cabeça e a respiração tende a ficar pesada… Para alguns, soa estranho lhe intitular como amiga, mas eu compreendo sua importância biológica. Muito já li sobre você e seus impactos físicos, psíquicos, bem como respectivas opções para tornar sua presença menos pujante. Quantas vezes já te levei para terapia; você me pegou no trabalho; E dá para contar a quantia de interrupções sob meu sono? Depois de alguns anos eu parei de lutar contra você e passei a lhe acolher na chegada e isso foi fundamental. 

woman with red hair
Foto: Pexels

Hoje, mais madura e com acesso à informação e terapias, compreendo que não posso estancar o riacho de emoções. Entendo que preciso lhe sentir para que possa então passar… e depois voltar quando for importante fazê-lo! Não tenho mais raiva ou medo de você, pois já ando olhando para meus traumas da infância, meus relacionamentos tóxicos, minhas indisciplinas com o meu corpo físico e espiritual, entre outros. Passei, você sabe, a me exercitar com uma regularidade mínima, dormir um pouco mais, comer frutas e legumes, beber mais água, encontrar minhas amigas, aceitar meu passado com seus prazeres e dores, perdoar, desapegar, sorver autoconhecimento, cuidar de mim e tudo que me circunda (dentro das melhores possibilidades). 

Quando você chega, querida amiga, eu já sei que preciso retomar minha atenção ao presente, concentrar na respiração, manter a calma, quiçá massagear meu peito, cheirar um óleo essencial, tomar um cházinho, diminuir a cafeína, colocar uma música… afinal, já são mais de 6 anos juntas! Tem muito relacionamento que não dura metade disso, né? Aliás, sabemos que já tive relacionamentos complicados e você chegava em rompante para gritar: – saia dele, saia dele, saia dele! 

Ansiedade amiga, gosto de escrever e por isso achei pertinente fazer esta carta para você. Acho que desta forma mais pessoas poderão olhar com menos pânico para suas visitas. Obviamente que não sou especialista na área e que procurar auxílio médico e psicológico são fundamentais. Outrossim, escrevo também como uma amiga para quem ora me lê. Pois, acredito que quem sofre com a ansiedade e suas múltiplas facetas precisa saber que há mais pessoas nesse barquinho. Conhecer, em adição, que há formas de mitigar seus impactos e múltiplas opções de autocuidado e carinho. Cuidar de si mesma(o) é uma urgência, que a ansiedade nos faz a gentileza de relembrar! Sim, ela tem uma função ou variadas! Ouvir suas mensagens ou pelo menos intentar compreender suas arestas pode ser útil. Está tudo bem não estar bem sempre; tudo bem fraquejar vez ou outra; tudo bem descansar. Está tudo bem não produzir nada hoje; tudo bem comer doces. Está tudo bem chorar copiosamente; tudo bem

Lembra de uma postagem que te escrevi no Instagram em meados da pandemia? Naquele período sua visita era quase diária. Vamos relembrar juntas tal ode?:


Às vezes minha amiga ansiedade me visita. Tem dias que lhe ofereço um chá quentinho de alguma erva calmante, outras vezes faço uma massagem no peito com mel, também, eventualmente convido-lhe para meditar, fazer Reiki, escalda pés, operamos juntas a inspiração e a expiração consciente. Ela me ensinou a sentir, agradecer e acolher, até o que julgamos ser ruim. Hoje novamente ela veio, como uma força maior do que o habitual. Mas tudo bem, nos sentamos para ver o sol se pôr. Inicialmente reparava no cenário, o céu parecia desenhado de tão lindo, nuvens com sombras rosadas davam até logo para o astro rei. Havia também árvores no horizonte, duas formavam a imagem de um jovem casal, outra parecia um dragão cuspindo fogo e uma terceira um elefante preguiçosamente esparramado. Nós estávamos sentadas no caule de um jambolão e meus pés tateavam o solo. Ela me fazendo refletir sobre a vida. Repentinamente chega o Tobi, nosso cachorrinho, a todo custo ele quer subir no meu colo. Insisti com ele para nos deixar sozinhas, mas ele estava convicto do seu querer. Cedi que ele ficasse, então, com duas patinhas em mim e duas no solo. Ele encostou a cabeça no meu peito, queria carinho. Essas criaturas já entenderam sobre amor e a gente insiste em teorizar. Não havia tido um dia tão agradável, para ilustrar, sangrei meu dedo em um arame farpado e até engoli um mosquito. Mas, mesmo assim, eu podia fazer carinho nele, certo?! Então comecei com toques suaves no seu peito e próximo aos olhos, ele acalmou tanto que até seu rabinho serelepe sossegou. Então, eu senti que seu coração e o meu serenaram. A gente sempre será capaz de dar carinho e amor, é da nossa essência, mas esquecemos. Nesse momento eu fechei os olhos e assim como sentimos êxtase quando estamos quase dormindo e/ou aqueles segundos em que aprofundamos a meditação, eu senti minha matéria unificada com a Tobi, com a mãe terra, com o ar e com tudo que me circundava: vibrávamos amor e harmonia. Isso para mim é Deus, o restante é demagogia. Hoje, a ansiedade me fez chorar… de alegria por estar viva! (…) Vamos expandir o contentamento da existência? Luz em nossos corações! (JULHO 13, 2020).


Enfim, minha amiga, este novo escrito é para agradecer e nos lembrar que viver vale tudo, com suas doçuras e dissabores. Escrever sobre você, por fim, significa encarar meus próprios monstros. Espero que esta carta chegue para mais corações que estão em precisão de compreensão e gentileza. Obrigada, muito. 

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