Redação Culturize-se
O neoconcretismo é um movimento artístico surgido no Brasil no final dos anos 1950, em resposta ao concretismo e ao racionalismo rígido que o caracterizava. Liderado por artistas como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape e Amilcar de Castro, o movimento propôs uma abordagem mais sensorial e interativa, valorizando a experiência do espectador como parte essencial da obra. O manifesto neoconcreto, redigido por Ferreira Gullar em 1959, definiu os fundamentos dessa nova estética: uma arte não mais limitada às formas geométricas rígidas, mas que encarna uma liberdade expressiva e experimental. Diferente do concretismo, que enfatizava o rigor matemático, o neoconcretismo defendia uma visão orgânica da forma, propondo uma arte que transcende a razão para explorar o sensível e o subjetivo.
O neoconcretismo trouxe um conceito revolucionário à arte brasileira, buscando superar as limitações de uma obra meramente visual para se tornar uma experiência sensorial, expandindo o espaço da tela para o ambiente ao redor. Essa nova abordagem abriu caminho para as chamadas “formas orgânicas” e a interação ativa do público com a obra, onde o espectador se torna parte fundamental do significado da criação. Hélio Oiticica, por exemplo, desenvolveu os Parangolés, capas e bandeiras que se ativavam no corpo em movimento, levando a arte para a performance e o cotidiano. Lygia Clark, com sua série Bichos, introduziu esculturas articuladas que só se revelavam plenamente através da manipulação do espectador, desafiando a ideia de obra de arte como objeto intocável.
Na arte contemporânea, o neoconcretismo segue inspirando e influenciando novos artistas que trabalham com temas como interatividade, presença física e imersão. César Oiticica Filho, sobrinho de Hélio Oiticica, é um dos artistas contemporâneos que explora esses princípios, resgatando o legado do tio e desenvolvendo uma pesquisa que dialoga entre o passado e o presente. Suas instalações e vídeos lidam com a sobreposição de significados, muitas vezes utilizando arquivos familiares e históricos para criar obras que ressoam intimamente com o público. Laura Vinci e Ernesto Neto são outros artistas que, com suas instalações imersivas, remetem ao legado do neoconcretismo, ampliando a experiência para o campo da percepção e dos sentidos. Suas obras propõem ambientes onde o espectador é convidado a interagir, andar, tocar, ou mesmo sentir o aroma, rompendo com as barreiras tradicionais da contemplação passiva.
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Ao incorporar o neoconcretismo na arte contemporânea, esses artistas mantêm viva a essência do movimento, promovendo uma arte que é vivenciada de maneira direta, sensorial e aberta a interpretações subjetivas. O neoconcretismo permanece como um marco de inovação e liberdade, ressoando no cenário atual como uma forma de expandir os limites da criação artística e de tornar o espectador um agente ativo no processo estético.