Redação Culturize-se*
O artista plástico carioca Hélio Oiticica deixou um legado que transcendeu as fronteiras dos ateliês e museus, buscando encontrar e produzir arte no cotidiano comum e nas ruas, de forma integrada à vida na cidade e enxergando o corriqueiro com poeticidade. Mesmo tendo falecido prematuramente aos 42 anos, em 1980, seu trabalho continua atual e é celebrado em uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Brasília, realizada no mês em que o artista completaria 86 anos.
Intitulada “Delirium Ambulatorium”, a exposição no CCBB apresenta mais de 80 obras de diferentes fases da vida de Oiticica, explorando a ideia que o artista repetiu em suas cartas, afirmando que a principal inspiração para sua arte era o contato com o mundo ao caminhar pelas ruas da cidade. O objetivo era ressaltar o olhar retrospectivo desde o início até o final desse movimento, em que suas criações passaram de desenhos no papel para objetos que ocupavam o espaço e se tornaram penetráveis, permitindo que as pessoas adentrassem suas obras.
A exposição também reflete a influência dos anos 1960 em Oiticica, incluindo seu contato com músicos da Tropicália e com a cultura popular, como o samba da Mangueira, e as relações entre o movimento do corpo e da arquitetura. Oiticica passou a ver o artista como um propositor de situações para que as pessoas descobrissem e vivessem com arte, quebrando distinções entre artista e não artista e entre museu e rua.
Livro em destaque
Além da exposição, outra forma de conhecer o pensamento de Hélio Oiticica é por meio de suas correspondências com amigos, outros artistas e familiares. O livro “Hélio Oiticica: cartas 1962-1970” reúne uma coletânea dessas cartas, resultado de um trabalho de pesquisa aprofundada conduzido pela pesquisadora Tânia Rivera, em parceria com Carlos Oiticica Filho. O livro é considerado como parte da obra do artista e revela sua busca permanente por elaborar conceitos e compreender o momento artístico de sua época.
Oiticica demonstrava uma preocupação com a dimensão coletiva da criação artística, exortando seus colegas a agirem conjuntamente. Ele também refletia sobre o papel do artista na sociedade, especialmente em relação à política, e sua obra “Seja marginal, seja herói”, que ficou eternizada em uma bandeira, se tornou um ato político pela libertação de Gilberto Gil e Caetano Veloso, que estavam presos naquele momento.
Hélio Oiticica deixou um legado que vai além das fronteiras do tempo e do espaço, e sua arte continua a inspirar e a ressoar com as pessoas, refletindo seu espírito revolucionário e sua busca pela integração da arte à vida cotidiana.
*com informações da Agência Brasil