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Programa estimula expansão global da literatura brasileira

Redação Culturize-se

Neste mês, leitores franceses foram presenteados com uma edição traduzida do livro “Canção para Ninar Menino Grande”, da escritora Conceição Evaristo, agora disponível como “Chanson pour bercer de grands garçons” pela Éditions des Femmes. Em paralelo, o site da editora italiana Fazi Editore lançou a pré-venda de “L’Amore è un Fiume”, título em italiano do best-seller “Tudo É Rio”, de Carla Madeira.

No mês anterior, duas obras de Ailton Krenak, “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” e “A Vida Não É Útil”, chegaram às livrarias da Suécia em um volume único intitulado “Om Drömmen, om Forden” (Edition Diadorim Arts).

Esses lançamentos têm em comum o apoio do Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), com a cooperação da Secretaria de Formação, Livro e Leitura (Sefli) do Ministério da Cultura (MinC) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

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Foto: Freepik

“O Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, da Fundação Biblioteca Nacional, é um dos mais bem-sucedidos no âmbito da internacionalização da literatura brasileira. Sua abrangência cobre os quatro cantos da Terra, como se desenhasse um projeto pós-babélico de projeção de nossos autores. O programa funciona também como uma poderosa antena do Brasil no mundo, promovendo a cultura da diversidade, da empatia e da paz”, afirmou o presidente da FBN, Marco Lucchesi.

Patrimônio literário

Instituído em 1991 pela Política de Internacionalização do Livro, a iniciativa visa divulgar o patrimônio literário nacional mediante a concessão de apoio financeiro. O programa recebe verbas do MRE e da FBN através da Lei Anual Orçamentária (LOA) e do Fundo Nacional de Cultura (FNC).

O objetivo é promover a literatura nacional no exterior, concedendo apoio financeiro para projetos internacionais de tradução e publicação de obras de autores brasileiros já publicadas em português no Brasil.

Fabiano Piúba, secretário de Formação, Livro e Leitura do MinC, celebra o êxito do projeto: “Compreendemos a literatura como tradução da diversidade, e precisamos traduzir essa diversidade para que outros leitores, de outras línguas também possam ter acesso. Ficamos muito animados já com o resultado do edital lançado em 2023 e o interesse de editoras e tradutores do mundo inteiro”.

“O Programa de Apoio à Tradução de Autores Brasileiros no Exterior é uma das principais plataformas de internacionalização de nossa literatura e é um orgulho para o Instituto Guimarães Rosa poder participar tão ativamente dessa iniciativa, ao lado de uma instituição parceira como a Fundação Biblioteca Nacional”, afirma Marco Antonio Nakata, diretor do Instituto Guimarães Rosa (IGR), unidade do MRE responsável pela diplomacia cultural brasileira.

Expansão global da literatura brasileira

Desde a criação do programa, há 32 anos, mais de 1.200 obras brasileiras foram publicadas em 45 idiomas, como inglês, italiano, francês, russo e espanhol. No edital mais recente, lançado no ano passado, 103 editoras foram contempladas com projetos de tradução de 95 títulos. As edições traduzidas dos livros de Ailton Krenak, Conceição Evaristo e Carla Madeira são as primeiras a se concretizarem, mas muitas outras virão nos próximos meses.

Por meio do edital 2022-2023 do Programa de Apoio à Tradução, “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior, será lançado no Egito pela Logha Publishing; “Oração para Desaparecer”, de Socorro Acioli, na França pela SASU Tropismes; “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, e “A Pediatra”, de Andréa del Fuego, terão edições na Eslováquia pela Portugalský Institút; e “Estorvo”, de Chico Buarque, será publicado na Suécia pela Lusima Books.

Leia também: Polêmica em torno de “O Avesso da Pele” tem mais a ver com polarização política do que com censura

Para Itamar Vieira Júnior, a iniciativa tem gerado bons resultados: “O Programa é de extrema relevância, e sua instituição há alguns anos tem permitido a colheita de bons frutos. Há cada vez mais autores brasileiros traduzidos no exterior e a nossa literatura passa a ocupar páginas importantes de prêmios e periódicos voltados à literatura. Sem esse apoio, seríamos menos conhecidos e dificilmente circularíamos fora do Brasil.”

Andréa del Fuego, autora de “Os Malakias”, “As Miniaturas” e “A Pediatra”, publicadas na Alemanha, Suécia, Argentina, Itália, França, Israel, Romênia e Kuwait, ressalta a acolhida no exterior: “Nós somos muito pouco lidos em diversos países, no estrangeiro, mas, nos últimos anos, e a Fundação Biblioteca Nacional tem um papel fundamental nisso, há uma difusão muito maior dessa literatura brasileira em diversos países, fazendo esse intercâmbio cultural, que é exatamente o destino dos livros”.

Jeferson Tenório comenta: “É uma maneira de quebrar o estereótipo que existe em relação ao Brasil. A literatura aproxima as culturas”. Ele também destaca a recepção de “O Avesso da Pele” no exterior: “No México houve uma grande empatia, enquanto na Suécia causou surpresa por conta da questão do racismo que acontece no Brasil abordada na obra”.

Livro O Avesso da Pele

O edital contempla não apenas obras recentes ou de autores em evidência na mídia, mas também projetos para a tradução de novos escritores e de livros de Mário de Andrade e Monteiro Lobato na China, de Clarice Lispector na Lituânia, de Lygia Fagundes Telles na Rússia e de Autran Dourado na Grécia.

“Galáxias”, de Haroldo de Campos, já saiu em espanhol pela Libros de la Resistencia, e Machado de Assis, que virou assunto na internet depois que “Memórias Póstumas de Brás Cubas” encantou a leitora-influenciadora norte-americana Courtney Henning Novak, terá seis títulos publicados na Zâmbia.

Andréa del Fuego valoriza o processo de tradução. “Quase todos os processos de tradução têm uma conversa com a tradutora ou o tradutor, e esse é um dos momentos mais ricos na experiência de um escritor, ao menos na minha visão. O tradutor é um leitor como jamais o escritor será do seu próprio livro”.

Jeferson Tenório concorda. “Traduzir um livro em outra língua e fazê-lo nascer em outro idioma”.

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