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“Divertida Mente” conjuga vetores da psicanálise com maestria

Com a sequência chegando aos cinemas, vale revisitar os fundamentos filosóficos e psicanalíticos presentes em “Divertida Mente”, um dos filmes essenciais da Pixar

Redação Culturize-se

“Divertida Mente” (Inside Out), filme da Pixar lançado em 2015, explora de maneira inovadora e sensível o mundo interior das emoções humanas. A narrativa segue Riley, uma garota de 11 anos, enquanto suas emoções – Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho – navegam por uma série de desafios que acompanham sua mudança para uma nova cidade. O filme oferece uma oportunidade única para analisar o comportamento das emoções através da lente da psicanálise, especialmente com o amparo de teorias freudianas e pós-freudianas.

Fotos: Divulgação

No filme, cada emoção é personificada, desempenhando papéis vitais na vida de Riley. Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, propôs que a mente humana é composta por diferentes componentes em constante interação: o id, o ego e o superego. As emoções em “Divertida Mente” podem ser vistas como representações simbólicas dessas forças psíquicas.

  • Alegria (Joy): Representa o princípio do prazer e a busca por gratificação imediata, semelhante ao id freudiano. Alegria busca manter Riley feliz e segura, promovendo experiências positivas.
  • Tristeza (Sadness): Pode ser associada à função do ego, que reconhece a realidade e lida com os aspectos dolorosos da vida. A tristeza, apesar de inicialmente ser vista como um obstáculo por Alegria, demonstra ser essencial para a compreensão e processamento das emoções complexas e da perda.
  • Medo (Fear), Raiva (Anger) e Nojinho (Disgust): Esses personagens também desempenham papéis importantes na sobrevivência e adaptação de Riley. Medo protege contra perigos, Raiva confronta injustiças, e Nojinho evita experiências potencialmente nocivas.

A importância da Tristeza

Uma das revelações mais significativas do filme é a importância da Tristeza. No início, Alegria tenta suprimir a Tristeza, acreditando que apenas emoções positivas deveriam predominar. No entanto, ao longo do filme, torna-se claro que a Tristeza é crucial para a empatia e para a formação de laços afetivos mais profundos.

Carl Jung, um contemporâneo de Freud, também destacou a importância de reconhecer e integrar todas as partes da psique. A “sombra”, um conceito junguiano, refere-se às partes reprimidas ou ignoradas do eu. Em “Divertida Mente”, a Tristeza pode ser vista como uma parte da sombra de Riley, que precisa ser integrada para que ela possa se desenvolver emocionalmente.

O valor da jornada

O filme também ilustra o processo de amadurecimento emocional. Quando Riley enfrenta a mudança para uma nova cidade, ela experimenta uma série de emoções conflitantes. Este conflito interno pode ser comparado ao conceito freudiano de “luto e melancolia”, onde a mente deve trabalhar através da perda e das mudanças para alcançar um novo estado de equilíbrio.

Donald Winnicott, um psicanalista pós-freudiano, introduziu o conceito de “transitional objects” e a importância do ambiente de apoio para o desenvolvimento emocional saudável. A jornada de Riley reflete essa teoria, mostrando como as suas emoções internas colaboram para criar uma nova narrativa e como o suporte externo, representado pelos pais e amigos, é essencial para sua adaptação.

“Divertida Mente” é, sob esse prisma, uma exploração profunda e filosófica da psique humana. Utilizando as teorias de Freud, Jung e Winnicott, podemos entender como as emoções personificadas de Riley refletem os complexos processos internos que todos nós experimentamos. Através da integração de todas as suas emoções, Riley aprende a navegar pelos desafios da vida, demonstrando que o reconhecimento e a aceitação de toda a gama emocional são essenciais para o crescimento pessoal e a saúde mental.

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