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Ruína de conto de fadas é o fantasma de “Priscilla”

Novo longa de Sofia Coppola observa a jornada falimentar de Priscilla Presley e sua difícil decisão de interromper o casamento com Elvis para reclamar autonomia sobre sua própria existência

Por Reinaldo Glioche

Priscilla

Quando o filme de Sofia Coppola começa, Priscilla Beaulieu está prestes a conhecer Elvis Presley. Ela, uma adolescente impressionável, terá uma experiência que, para o bem e para o mal, definirá sua vida. E é por isso que Coppola inicia seu filme ali, naquele sonho desajeitado de adolescente que vira um conto de fadas fadado ao fracasso. Esse conceito norteia o longa e também o interesse do espectador.

A cineasta habilmente trabalha a melancolia inerente ao que observa, uma mulher enclausurada em um “sonho de tantas outras mulheres” que não sabe exatamente como conviver com uma divindade que a repele a qualquer investida por uma intimidade mais convencional. Do figurino, que vai contando uma história por si só, às atuações do par de protagonistas, tudo se articula para tangenciar esse comentário entristecido sobre um conto de fadas que, visto de muito perto, se revela um pesadelo sufocante.

Leia também: “Priscilla”, Woody Allen e o triunfo do cinema de autor em Veneza

Cailee Spaeny deixa-se capturar pelas lentes de Coppola com graciosidade e investe na delicadeza, da postura aos gestos, para adornar uma personagem frequentemente narrada a partir da perspectiva de Elvis. Nesse sentido, o filme expande o olhar proposto pelo filme de Baz Luhrmann, lançado em 2022. Aqui Elvis não é o fio condutor, mas ainda assim testemunhamos seu flagelo, a briga do homem com o mito e a atuação de Jacob Elordi é saliente no compasso de dimensionar o caos interno do personagem e como ele esvai de maneira passivo-agressiva em Priscilla.

Coppola retoma alguns temas que lhe são caros como o amadurecimento feminino, a relação difusa e formadora com homens mas velhos e o peso de choques culturais na construção da memória. “Priscilla” é um filme de momentos, de sobressaltos temporais, sejam eles internos, conjunturais ou formais. É, ainda, uma elaboração algo sofisticada sobre o peso mastodôntico da fama sobre o caráter e os afetos.

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