"Priscilla", Woody Allen e o triunfo do cinema autoral em Veneza

Por Mariane Morisawa, de Veneza | Fotos: Divulgação

Sofia Coppola retorna a um de seus temas: a jornada de amadurecimento de uma garota em circunstâncias restritivas. Foi assim em "As Virgens Suicidas", "Maria Antonieta" e agora com "Priscilla", que mostra o outro lado de um dos relacionamentos mais famosos do mundo, dela com Elvis Presley.

Cailee Spaeny tem a missão de fazer a personagem desde seus 14 anos, quando conhece Elvis, até os 29, na separação do casal. Como se trata de Sofia Coppola, o crescimento de Priscilla Presley se dá nas pequenas nuances de comportamento, sem grandes arroubos, de forma delicada e sensível.

Também em competição, Ryusuke Hamaguchi ("Drive My Car") trouxe um filme de ambição menor, "Evil Does Not Exist". Em uma pequena comunidade nas montanhas, a chegada de um empreendimento turístico ameaça o equilíbrio da vida local.

O projeto saiu como parceria com a compositora Eiko Ishibashi, que criou uma música lindíssima. Hamaguchi toca o filme em uma levada minimalista até quase o final, quando a poesia toma conta da tela para mostrar como a vida é imprevisível.

Fora de competição, Woody Allen fala mais uma vez de acaso em "Coup de Chance", sua primeira produção falada em outra língua, no caso, o francês. Fanny (Lou de Laâge) é casada com Jean (Melvil Poupaud), um sujeito cheio do dinheiro.

Mas, por acaso, ela reencontra Alain (Niels Schneider), um antigo colega de classe no ensino médio, e sua vida sofre uma reviravolta. Temas clássicos de Allen estão presentes – acaso, adultério, crime –, mas este aqui tem mais charme do que os últimos dele.