Reinaldo Glioche
Lançado no Festival de Cannes de 2023 e um figurante de luxo na vigente temporada de premiações, o novo longa de Todd Haynes, que ganhou o genérico nome nacional de “Segredos de um Escândalo” é um ensaio algo satírico sobre nossa natureza predatória. Do sensacionalismo que nos habita à capacidade de usurpar, revitimizar e fetichizar tragédias e traumas alheios.
Natalie Portman interpreta Elizabeth Berry, uma atriz em pesquisa para seu próximo papel no cinema: Gracie Atherton-Yoo (Julianne Moore), que 20 anos atrás viveu um romance que causou escândalo e a sua prisão. Seu marido, Joe (Charles Melton), tinha 13 anos na época e Gracie, 36. Haynes elege o cinema, na epiderme, e o jornalismo, na derme, como expressão desse nosso nauseante impulso predatório.
“Segredos de um Escândalo” nutre um interesse especial pela dinâmica entre essas duas mulheres que sentem curiosidade e repulsa uma pela a outra. A afetação dos desempenhos de Portman e Moore representa um comentário da realização sobre as performances cotidianas que articulam nossa compostura.
O longa se alinhava como um thriller B, repare na insidiosa e espetaculosa trilha sonora, embora seja possível notar referências a Bergman e a Almodóvar aqui e ali, mas ganha expressão dramática – e sutileza narrativa- nos arranjos que propõe para o personagem de Charles Melton, que defende a mais complexa e azeitada performance da obra. Joe, assim como Berry e Gracie, sustenta um personagem. A crença que veicula é a de que não foi vítima. A maturidade emocional de menino-homem está em xeque, quando o flagramos, por circunstâncias que vão além da presença da atriz que lança um microscópio sobre sua existência.
É na observação de Joe que “Segredos de um Escândalo” se resolve enquanto cinema, sem perder de vista seu potencial satírico – e algo pessimista – com o qual percebe tudo e todos. O comentário que faz do cinema hollywoodiano, em particular, sem muito estardalhaço, mas com propriedade, é deveras alarmista. Hollywood, na conotação do filme, é a janela para nossa alma e o que se vê não inspira virtuosismos.