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Como a Universal virou o grande estúdio mais corajoso e interessante da Hollywood atual

Por Reinaldo Glioche

Ok, a Warner ganha pontos por manter uma orientação voltada para o cinema de autor – colabora com nomes como James Wan, Clint Eastwood e Ben Affleck, entre outros -, mas nenhum estúdio de cinema atualmente corre tantos riscos em produções de médio orçamento como a Universal.

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O estúdio integra o conglomerado de mídia Comcast desde 2011, quando a gigante adquiriu a NBC Universal, e em 2023 foi o estúdio que mais arrecadou nas bilheterias globais. Seguido, adivinha de quem?, pela Warner.

A Universal abrigou Christopher Nolan quando ele rompeu com a Warner por divergências sobre o lançamento de “Tenet” (2020) e deu um orçamento de US$ 100 milhões e total liberdade criativa para o cineasta tocar “Oppenheimer”. A aposta, moderadamente arriscada já que o tema do filme não é exatamente material de blockbuster, deu muito certo e o longa não só virou um dos hits do verão americano como pode dar o Oscar ao estúdio que não ganha na categoria de Melhor Filme desde “Uma Mente Brilhante” em 2002.

Esse é um aspecto indelével da coragem de um estúdio em um momento em que os gigantes de Hollywood se apoiam cada vez mais em propriedades intelectuais estabelecidas. Enquanto a Marvel, da Disney, padece nas bilheterias com filmes ruins, e no streaming, com séries desinteressantes, a Universal aposta em produções de baixo e médio orçamento que ganham bons dividendos junto ao público e crítica.

Em 2023, o estúdio lançou produções como o debochado “O Urso do Pó Branco”, o terror com inusitado foco em IA, que seria um dos temas do ano, “M3GAN”, a comédia canina “Ruim pra Cachorro” e o terror adaptado do game homônimo “Cinco Noite no Freddy´s”. Produções de baixo orçamento que renderam muito nas bilheterias.

Na esteira do lançamento do trailer de “Abigail”, sobre uma menina sequestrada que acaba se revelando uma vampira para terror de seus sequestradores, é oportuno observar como o estúdio está apoiando leituras plurais para o vampiro enquanto personagem. Ano passado foram lançados os ótimos “Renfield”, em que Nicolas Cage dá vida ao Drácula, e “A Última Viagem do Deméter”, cujo mote é drácula em um barco no século XIX.

Esse desprendimento no tratamento de suas propriedades intelectuais vale ao estúdio não apenas o destaque nas bilheterias e junto à crítica, mas uma posição singular na lógica hollywoodiana. Chefiado por Peter Cramer e com Donna Langley responsável especificamente pela divisão de filmes, a Universal Pictures se encontra em uma posição tão segura que é capaz de oferecer respaldo para o lançamento de produções artísticas como “Clube dos Vândalos”, descartado pela Disney e que encontrou abrigo na Focus Features, braço independente da Universal, que vai distribuir o longa internacionalmente.

A Universal não renunciou à exploração mais convencional de propriedades intelectuais. Franquias como “O Exorcista” e “Halloween” estão aí, apesar dos resultados divisivos, e “Velozes e Furiosos” já entrou em sua segunda dezena de filmes, mas o estúdio compreende como nenhum outro na Hollywood atual que eles são apenas um meio, não um fim.

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