Edição 2023 da CCXP teve o improviso como principal característica e, se a marca expande para o México, feiras pop como o TUDUM, da Netflix, ameaçam a hegemonia da Comic-Con brasileira
Reinaldo Glioche
Entre agosto e outubro os anúncios para a CCXP 2023 se concentraram em nomes das HQs, algo essencialmente positivo e que remete às origens da Comic-Con nos EUA, mas uma contingência da greve dos atores em Hollywood que paralisou toda e qualquer promoção de produtos audiovisuais, algo que se tornou a pedra elementar de toda Comic-Con e essencialmente da brasileira, a maior do mundo em público.
A 10ª edição do evento, em um ano que a Omelete Company anunciou a expansão internacional da feira – com a 1ª edição no México marcada para maio de 2024 – e depois da fase hesitante e digital imposta pela pandemia, a greve era um golpe duro de digerir e que invariavelmente afetaria o interesse pelo evento.
Com o fim da greve dos atores no início de novembro as circunstâncias passaram a ser outras e com os estúdios ávidos por correrem atrás do prejuízo (literal e simbólico) em termos de promoção de seus filmes, a CCXP 2023 passou a ser ainda mais atraente.
A Warner Bros, por exemplo, vai trazer diretores e elencos de seus principais blockbusters nos próximos meses. Os atores Timothée Chalamet, Zendaya, Austin Butler e Florence Pugh, e o diretor Denis Villeneuve vão estar em um painel para falar de “Duna – Parte 2”, enquanto Jason Momoa, ao lado dos atores Patrick Wilson e Yahya Abdul Mateen II, e o diretor James Wan vão trazer detalhes de “Aquaman 2: O Reino Perdido”, que estreia globalmente em dezembro. Não é só! Anya Taylor-Joy, Chris Hemsworth e o grande cineasta George Miller vão ocupar o Palco Thunder para a primeira apresentação mundial do aguardado “Furiosa”, prequela de “Mad Max – Rury Road” (2015), que vai estrear no Brasil em 23 de maio de 2024.
A AppleTV+ vai estrear no evento com um painel poderoso com elenco e equipe criativa da série “Monarch”, já em exibição no streaming. Mais novidade devem ser anunciadas ao longo da semana em que o evento acontece, mas fato é que os estúdios haviam preparado estandes ainda mais acachapantes para tentar diluir os efeitos da greve e a ausência de painéis de impacto.
Dormindo com o inimigo
A Netflix vai levar a equipe de “Rebel Moon”, seu blockbuster de fim de ano assinado por Zack Snyder, para o Palco Thunder. O filme terá sua primeira exibição global lá. É uma oportunidade para a Netflix, que já consolidou sua própria feira pop, o TUDUM, que atualmente representa o maior risco para a CCXP, já que mobiliza um imenso número de astros e tem acesso gratuito.
Durante os primeiros anos da CCXP, a Netflix foi uma apoiadora contumaz. Em muitas edições, seus painéis foram os mais badalados com astros do naipe de Will Smith e Sandra Bullock. Mas esse tempo passou. Embora a gigante do streaming entenda a importância de permanecer no evento, sua presença se tornou mais protocolar com a nata de sua programação – e estrelas -sendo reservada para o TUDUM.
A Disney, que também organiza suas próprias feiras e com transmissão pela internet, é outra com presença discreta no evento, apesar do estande com 360 m² que terá no pavilhão da São Paulo Expo. Seu streaming, o Disney+, fará uma exibição do piloto da série “Percy Jackson”, que estreia no fim de dezembro. Muito pouco para o estúdio que terá tantos destaque no cinema e no streaming nos próximos meses.
Esses são sintomas de que a CCXP, que pavimentou um caminho no Brasil para a cultura pop capitalizando em cima de uma demanda reprimida, muito em breve terá que lidar com um calendário ainda mais agitado e disputa por produto e produções. Nesse sentido, a chegada ao México é providencial para equalizar perspectivas e possibilidades. Ainda assim, o cenário será mais desafiador do que há 10 anos.
Deferência à cultura nacional
Renato Aragão e Fernando Meirelles são dois exemplos de artistas brasileiros que foram homenageados em edições passadas. Em 2023, é a vez de Xuxa. A rainha dos baixinhos, que em 2023 teve série documental, filme, reality show e até um cruzeiro, será tema de um painel no dia da abertura do evento, 30 de novembro. A feira pop segue até 3 de dezembro.