Redação Culturize-se
A venda dos direitos autorais de suas músicas para a Litmus Music, colocou Katy Perry em uma galeria de artistas que inclui Bob Dylan, Paul Simon, Stevie Nicks, Bruce Springsteen e Neil Young, bem como adensa uma tendência na música de artistas se desfazendo de seus catálogos em prol de uma vultosa quantia. Todos os citados, o fizeram de 2020 para cá.
Com as mudanças no setor e os recorrentes problemas na relação entre empresas de streaming e artistas no tocante à remuneração, a dependência de turnês para capitalizar passou a ser uma constante mesmo entre superstars da música.
Vitor Cunha, CEO e fundador da Magroove, distribuidora digital presente em 196 países, lembra que a venda de catálogos por artistas não é um expediente exatamente novo na música, mas que tornou-se mais atrativo como investimento financeiro nos últimos anos. “David Bowie vendeu parte do seu catálogo ainda nos anos 1990. Mas, há 30 anos, o acesso aos hits antigos não era tão fácil como hoje. Nas lojas de música, a disponibilidade de CDs e LPs antigos era limitada por questões de armazenamento mesmo. Em 2023, conseguimos acessar a discografia completa de virtualmente qualquer artista por meio do streaming. Então, o investimento na compra do catálogo antigo pode ser mais interessante no longo prazo”.
Para ele, a tendência tem menos a ver com a algoritmização dos ativos financeiros do que a percepção de mercado desses artistas. “Existe uma camada qualitativa que não pode ser desvinculada na prática. Sempre existe a figura de um especialista/corretor de investimentos, e vai também existir a camada de olhar para o artista, a personalidade, o conceito e ignorar completamente as métricas atuais. Investir pois a pessoa vê valor naquilo. É mais ou menos o princípio de ‘value investing’: investir baseado no modelo de negócio e na proposta de valor, ainda que pequeno”.
Ou seja, para Cunha, o investimento no catálogo de Katy Perry pela Litmus Music, que está atrelada a um fundo de private equity, se dá porque há a leitura de que haverá um retorno no longo prazo. O investimento, não custa lembrar, foi alto: US$ 225 milhões. Vale lembrar, porém, que o streaming é a principal fonte de renda e uma organização com experiência no mercado financeiro talvez seja um interlocutor com “gelo no sangue” para discutir a remuneração por streams. Os royalties ainda contemplam performances ao vivo e inclusão em obras audiovisuais.
Cunha frisa se tratar de uma operação de risco, pois o retorno esperado pode não se verificar, mas as empresas financeiras estão desenvolvendo produtos para potencializar rendimentos atrelados aos royalties dos catálogos que adquirem. Trata-se de um fascinante mundo novo, cujas matizes ainda não estão de todo claras.
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