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Hip hop completa 50 anos com legado de conscientização

Redação Culturize-se

Pesquisadores afirmam que a cultura hip hop surgiu de festas organizadas por jovens afro-americanos nos anos 70 no bairro do Bronx, em Nova York. Entre esses eventos, um em especial é considerado fundamental. Em 11 de agosto de 1973, há exatamente 50 anos, um edifício na Avenida Sedgwick sediou uma festa organizada por DJ Kool Herc, marcando o início do movimento. Ele tocou os discos enquanto B-boys e B-girls dançavam e MCs animavam a multidão. O edifício foi reconhecido como o “berço do hip hop” em 2007 pelo Escritório de Parques, Recreação e Preservação Histórica do Estado de Nova York.

“O hip-hop é um mosaico”, diz Dante Ross, um executivo de A&R de longa data que influenciou carreiras que vão desde Beastie Boys até Brand Nubian e MF Doom. “É composto por muitas peças, cores, tamanhos, formas… é uma das maiores formas de arte já criadas.” Ele continua: “tornou-se o epicentro da cultura pop. Seja moda de rua, cultura de tênis, arte de rua ou qualquer uma das vertentes que giram em torno dela, todas remontam ao hip-hop.”

Hip Hop
Foto: Pixabay

Aqueles que vivem e respiram essa forma de arte se sentem especialmente gratificados por este momento de celebração, devido à forma como o hip-hop foi originalmente percebido. Como lembrou Ed Lover, ex-apresentador do programa “Yo! MTV Raps”, o hip-hop foi excluído dos prêmios Grammy por anos e foi desprezado por músicos considerados sérios como uma novidade.

“Lembro-me dos anos 80, quando todos achavam que o hip-hop era uma moda passageira e pensavam que ele iria desaparecer”, diz o produtor de Detroit, Apollo Brown. “Era como se dissessem, ‘Ah, deixem nossos filhos se divertirem um pouco e depois tudo vai acabar.’ Não é assim. O hip-hop domina o mundo. Está em todos os comerciais que você vê. Está em todos os filmes… está em todos os outdoors.”

Para muitas pessoas ao longo dos últimos 50 anos, o hip-hop tem sido a trilha sonora dos momentos bons e ruins da vida. O The Washington Post perguntou aos fãs no Festival Rock The Bells em Queens, em 5 de agosto, para expressarem o que significa ver uma cultura que eles amam alcançar esse marco.

“Estar aqui pelos 50 anos significa fazer uma viagem pela memória”, disse Ebony Green, cujo falecido pai, um DJ no bairro de Coney Island, em Brooklyn, a introduziu ao hip-hop em 1986. “Estou pensando em ser uma garotinha… apenas vendo tudo isso, lembrando dos discos que eu costumava limpar para ele. … Isso é como um retorno ao lar.”

Terrence John, cujo pai também era um DJ, estava no festival com Jennifer Morales, ansiosos para ver Ludacris, Run-DMC e outros se apresentarem. Com 22 anos, John é mais jovem do que muitos dos artistas que estava lá para ver.

“Acho que muitas das músicas eu descobri por conta própria, e quando eu procurava na internet ou tinha uma música que eu gostava e tinha que ouvir mais”, disse John, que lembra de sempre estar com fones de ouvido quando estava crescendo.

Penetração global

O gênero é o segundo mais escutado no mundo na plataforma de streaming mais escutada do planeta, o Spotify, com um crescimento de 68% em consumo nos últimos três anos globalmente. Até o momento, em 2023, aproximadamente ¼ de todos os streams no Spotify no mundo são de música hip hop. De acordo com a plataforma, EUA, México, Brasil, Alemanha e França são os países que mais escutam o gênero.

No Brasil

Curiosamente, o rapper MV Bill também completará 50 anos em breve. Enquanto o hip hop emergia no Bronx, ele nascia na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, se tornando um precursor do movimento que chegou ao Brasil nos anos 80. Em seu novo álbum “Dr. Drill”, MV Bill explora novas direções rítmicas, mantendo sua crítica social e conscientização presentes nas letras.

Rapper premiado que também se envolveu no audiovisual e literatura. MV Bill é um dos fundadores da Central Única de Favelas (Cufa), a maior ONG do mundo atuando em projetos comunitários. Ele compartilha perspectivas construídas ao longo de sua carreira, destacando a evolução do hip hop e suas complexidades.

MV Bill
MV Bill | Foto: Allan França

Em entrevista à Agência Brasil, MV Bill observa que houve um crescimento significativo, superando debates sobre a autenticidade musical do gênero e enfatiza a importância de abranger todos os elementos do hip hop, incluindo dança, grafite e DJ, em festivais, mas reconhece que muitos focam apenas no rap. Ele destaca o valor da diversidade musical dentro do movimento.

Ao discutir a inclusão do break dance como modalidade olímpica, MV Bill acredita que isso dará visibilidade ao elemento menos reconhecido do hip hop e discorda da leitura de que enfraqueceria a essência do break dance nas ruas.

Sobre as mudanças no rap, MV Bill observa que, à medida que o gênero se tornou mais conhecido, algumas questões sociais importantes foram perdendo destaque nas letras, em parte devido à entrada de jovens de diferentes origens. Ele aponta para a necessidade de garimpar as músicas atuais para encontrar aquelas que ainda abordam questões relevantes.

MV Bill reforça que aos 50, o hip hop está muito mais maduro como movimento de transformação social e conscientização.

A Prefeitura de São Paulo anunciou um calendário de um ano de atividades celebratórias do Hip Hop na cidade. Os eventos, que ocorrerão até agosto de 2024, são promovidos pela Secretaria Municipal de Cultura e ocuparão espaços tradicionais do movimento em São Paulo, como o Centro Cultural São Paulo (CCSP) e a Casa de Cultura Hip Hop Leste.

“Essa cultura, que tem seu início em um ambiente extremamente fragilizado por diversos tipos de violências, carrega a síntese do que é transformação. O hip hop, desde a década de 1970, vem conquistando o mundo e segue mudando a música, a dança, a moda, as artes visuais e a maneira como toda uma juventude, em sua grande maioria preta e periférica, se expressa”, destaca o assessor técnico do Núcleo de Hip Hop da secretaria, Marcello Gugu.

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