Em uma temporada catastrófica, o filme “Barbie” rompeu nichos e barreiras e conseguiu se comunicar frontal e horizontalmente em diferentes mídias com diferentes públicos
Redação Culturize-se
Hollywood enfrenta uma crise sem precedentes. Os sindicatos do roteiristas e dos atores estão em greve, a inteligência artificial é uma sombra indomável, os espólios da guerra dos streamings ainda não estão claros e os blockbusters que deveriam estar garantindo o mínimo de paz aos estúdios estão fracassando retumbantemente nas bilheterias. Em parte porque são ruins e desnecessários, mas fundamentalmente porque as campanhas de marketing parecem ultrapassadas e acomodadas.
É preciso reconhecer de antemão que dominar o jogo do marketing não é necessariamente fácil, mas muita gente acredita que o combo estrelas + propriedade intelectual reconhecida vende um filme sozinho. Não é bem assim! É nesse escopo que “Barbie” desponta como um estudo de caso promovendo interação, gamificação e estratégias virais em um grau pouco visto na Hollywood contemporânea.
A casa dos sonhos da Barbie, que está disponível para aluguel em Malibu, na Califórnia, via Airbnb, é um golpe de marketing certeiro, mas réplicas assinadas por designers de interiores prestigiados se espalharam pelo mundo, por shoppings, inclusive no Brasil, potencializando uma ponte com a memória afetiva dos adultos.
Muitas marcas estão lançando suas coleções exclusivas temáticas da Barbie cor-de-rosa. Algumas marcas, apenas no contexto do mercado dos EUA, incluem OPI (esmaltes), NYI (cosméticos), moon (higiene dental), Beis (malas), Gap (roupas), Funboy (coleção de piscina), Homesick (velas), Ruggable (tapetes), Aldo (sapatos), Forever 21 (roupas), Impala (patins) e muitas outras. Além de todos os produtos de beleza e decoração, a equipe de marketing do filme também colaborou com a Cold Stone Creamery para um delicioso bolo inspirado no filme.
A equipe também conquistou o mundo dos jogos, unindo-se à Xbox para lançar consoles e controles cor-de-rosa, juntamente com carros do Forza Horizon 5 inspirados na Barbie e no Ken. A trilha sonora oficial do longa também foi desenvolvida para ampliar latitudes e inclui músicas de Dua Lipa (que é uma Barbie no filme), Billie Eilish, Nicki Minaj, entre outros.
Marketing 360º
A moda “Barbiecore” não é algo novo; a tendência de usar rosa choque surgiu desde que as fotos do set de Barbie foram divulgadas pela Warner Bros. Muitas celebridades têm sido vistas optando por moda rosa nos eventos do Met Gala e outros grandes eventos. Margot Robbie fez da turnê promocional do filme um painel de referências clássicas e estilosas do guarda-roupas da personagem.
Outro acerto providencial está no fato de “Barbie” ser todo pró-diversidade, o que possibilita até mesmo reescrever capítulos controversos da criação da Mattel. Além do elenco cuidadosamente selecionado para esse fim e devidamente acolhido nos discursos promocionais, Warner e Mattel decidiram colaborar com a Save The Children em uma missão para empoderar meninas. Eles estão trabalhando para tornar realidade o sonho de meninas acolhidas pela instituição, fornecendo-lhes os recursos, apoio e educação necessários. Um leilão de caridade também está acontecendo para arrecadar dinheiro para essa boa iniciativa.
O aspecto global do marketing de “Barbie”, aliado aos números já impressionantes que o longa registra em sua largada no box office – no Brasil o filme registrou a maior bilheteria de estreia da Warner em todos os tempos e a 2ª maior da história, atrás apenas de “Vingadores: Ultimato” (2019), o cume de um projeto desenvolvido por 10 anos – , demonstram que Hollywood talvez precise mesmo é sair da letargia para ser capaz de criar ou manter conexões com sua audiência.