“Maggie Moore(s)”, novo longa de John Slattery coloca Jon Hamm como um chefe de polícia viúvo tentando desvendar uma intrincada teia de assassinatos
Por Reinaldo Glioche
Desde que os irmãos Coen fizeram o excepcional “Fargo” (1996) muitas imitações vieram. Os próprios Coen se autorreferenciaram em filmes como “Matadores de Velhinha” (2004) e “Queime Depois de Ler” (2008). A assunção de que “Maggie Moore(s)”, novo filme de John Slattery e que debutou no último Festival de Tribeca é fortemente influenciado por essas obras dos irmãos Coen não é um demérito, até porque o roteiro de Paul Bernbaum é indulgente o suficiente consigo e com a audiência.
O longa, no entanto, tem alguns trunfos. O primeiro deles é Jon Hamm, amigo pessoal de Slattery, seu colega de elenco da série “Mad Men”, como protagonista. O segundo é temperar os diálogos de uma aura woodyalleniana irresistível; promovendo um inusitado misto entre dois dos mais marcantes cinemas dos EUA contemporâneo.
Ajuda nessa composição a escalação de Tina Fey, com quem Hamm já tem experimentada química, e Nick Mohammed, em alta como o Nathan de “Ted Lasso”. Eles ajudam tornar esse estranho, mas bem-vindo hibridismo em algo extremamente charmoso e convidativo.
Hamm é o chefe de polícia de uma cidadezinha suburbana que se vê em uma investigação intrincada de dois assassinatos de duas mulheres chamadas Maggie Moore. Em paralelo ele toca o hobby de escritor amador, seu único respiro fora do trabalho, já que perdeu a esposa há um ano e não parece ter superado isso. É neste contexto que surge Rita, a personagem de Fey, uma mulher solitária que, como o personagem de Hamm observa em determinado momento, parece incapaz de tomar uma decisão para si por si.
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Há ainda o policial assistente vivido por Mohammed, um tipo que só sabe fazer piadas (geralmente pesadas) em momentos inconvenientes.
Outro trunfo de “Maggie Moore(s)” é fazer com que seus personagens sejam cativantes, por mais heterodoxos que possam parecer, tornando eles o principal foco da audiência e não apenas o desenrolar da investigação.
Slattery, em seu segundo filme como diretor, mostra ser capaz de mesclar bem gêneros distintos, como humor e suspense, e não se perder em meio às parrudas referências. Em todos os aspectos, “Maggie Moore(s)” é um filme saboroso. Mesmo tendo como mote uma investigação de assassinatos, consegue impor uma perspectiva otimista para a vida sem soar piegas ou forçado. É, por concepção, o que o cinema independente norte-americano tem de mais reluzente a mostrar na atualidade.