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“A morte é um negócio solitário”, de Ray Bradbury, é aventura noir povoada dos mitos da velha Los Angeles

Aline Viana

Ray Bradbury é um autor estadunidense famoso pelas suas narrativas de horror, fantasia e ficção científica. O livro mais famoso dele e cuja história já entrou para o imaginário ocidental é “Fahrenheit 451”, publicado pela mesma editora Biblioteca Azul que nos traz este “A morte é um negócio solitário”, trama policial do autor.

A Morte é um negócio solitário

A história se passa no distrito de Venice, em Los Angeles, em 1949. Naqueles tempos antigos, Venice não era a praia badalada que se tornou hoje, mas já abrigava surfistas e atletas sarados e um público boêmio. 

Porém, a se considerar a descrição de Bradbury, tinha mais uma vibe de cidadezinha praiana do interior repleta de peculiaridades, como o barbeiro que destruía a aparência dos incautos que por lá apareciam pedindo um simples cabelo, barba e bigode; e os anúncios de serviços que os moradores fixaram há eras nas janelas e décadas depois ainda estavam lá, apenas mais desbotadas.

O protagonista é livremente inspirado no próprio Bradbury. O leitor o encontra no momento em que ele volta de trem para casa e uma figura sinistra senta-se atrás dele e comenta, aos trancos, a frase que dá título ao livro. Pouco depois, ele salta, sumindo na escuridão. 

“E foi naquela época, em um daqueles anos solitários em que a névoa nunca acabava e os ventos nunca cessavam seus lamentos, que, ao andar no trovão estrondoso que era aquele antigo bonde, encontrei, em uma noite, o amigo da Morte e não me dei conta”.

Ray Bradbury em “A morte é um negócio solitário”

No dia seguinte, uma triste figura aparece morta sob o cais da praia próximo à casa do protagonista. E de forma singular, presa dentro do que seria uma jaula de leão abandonada no mar.

Daí, o protagonista, que é um escritor durango cuja namorada estuda no México e mal se sustenta com a venda de contos, passa a suspeitar da ocorrência de um assassino serial e trocar ideias sobre o caso e sobre a escrita com o detetive da cidade Elmo Crumley.

“Você não entraria num tribunal nem para comprar café e rosquinhas para o juiz com o que tem a oferecer, seu idiota. Pessoas morrem. Acidentes acontecem. Motivo, merda, um motivo. Você está igual àquela música no rádio: ‘Ontem à noite eu vi na escada/ um homem que não estava lá/ Essa noite ele ainda / não estava lá. Meu Deus, como queria / que ele fosse embora’

Ray Bradbury em “A morte é um negócio solitário”

O texto tem uma pegada de história noir, que Bradbury assume logo de saída ao dedicar o livro aos mestres como Raymond Chandler, Dashiell Hammett e James M. Cain. A chuva constante, só substituída pela neblina densa traz bem o clima de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Ray Bradbury | Foto: Divulgação

No entanto, as mãos de Bradbury a atmosfera noir ainda tem o seu quê de fantástico, talvez pela diversidade do ecossistema de personagens que ali vive: o mais belo astro do cinema esquecido, a atriz do cinema mudo encastelada numa mansão à beira-mar, o cidadão que é psicanalista e cartomante e o que houver no meio, a cantora de ópera auto exilada em um cortiço e obesa de comer a saudade do amor não vivido.

Leitores amantes de um bom crime, com detetive durão e com um criminoso entre os personagens aos quais fomos apresentados, mas que consegue se manter voando abaixo do radar, podem ir sem medo: todas as suas exigências foram atendidas.

A obra ainda rendeu outras duas sequências ainda inéditas em português – é torcer para que a editora se anime a trazê-las para o público brasileiro.

Ficha técnica

“A morte é um negócio solitário”

Ray Bradbury

305 páginas | Editora Biblioteca Azul
Preço:
R$ 58,25 – edição impressa | R$ 49,90 – e-book

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Fique de olho!

Flip 2023 | Já temos a autora homenageada, Pagu (Patrícia Rehder Galvão – 1910-1962), e as datas (22 a 26 de nov.)  para a próxima edição da Festa Literária Internacional de Paraty. Pagu é uma escritora modernista, ainda que não tenha participado da Semana de Arte Moderna de 1922 (ela tinha apenas 12 anos à época). 

Pagu escreveu o primeiro romance proletário brasileiro “Parque industrial”, sob o pseudônimo de Mara Lobo, uma autobiografia, poemas, contos policiais e textos políticos. Também se destacou nas artes plásticas.

Nesta edição, a festa terá novamente uma curadoria compartilhada: voltam Fernanda Bastos, jornalista e editora gaúcha, e Milena Britto, crítica literária, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia. Ambas, em 2022, dividiram a missão com Pedro Meira Monteiro, professor da Universidade Princeton.

Já está confirmada a presença da escritora argentina Laura Wittner, cujo livro “Tradução da estrada”, deve sair em breve pelo Círculo de Poemas – parceria das editoras Fósforo e Luna Parque. “Se vive y se traduce” deve sair, em breve, por aqui pela editora Bazar do Tempo.

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