Jonathan Pereira
Depois de apresentar como Silvio Santos consolidou sua carreira, a segunda temporada de “O Rei da TV”, disponível desde o último dia 29 no Star+, foca em outros momentos da vida do comunicador, indo da candidatura à Presidência em 1989 à crise do banco Panamericano, em 2010. Muita coisa que aconteceu dentro desse intervalo de 21 anos foi antecipada. Portanto, se quiser curtir, lembre-se: a série não é um documentário e não segue a cronologia real.
Desta vez, não temos três intérpretes de Silvio: José Rubens Chachá protagoniza os dois momentos (Mariano Mattos Martins, que viveu o apresentador entre os anos 1958 e os anos 1970, surge rapidamente em um porta-retrato). Chachá segue ótimo como o dono do SBT, mostrando-se uma escolha muito acertada para o papel. Depois de superar o problema nas cordas vocais que poderia tira-lo de vez dos palcos na primeira temporada, Silvio candidata-se à presidência da República em 1989 a poucos dias do pleito, e diversos movimentos acontecem nos bastidores para tirá-lo da disputa. Em paralelo, acompanhamos a maneira que ele lidou com o rombo bilionário no Panamericano, banco que o Grupo Silvio Santos era sócio.
Se a família Abravanel já tinha odiado a temporada anterior, não vai gostar nada ao saber que uma crise conjugal entre o apresentador e Íris Abravanel (Leona Cavalli) por conta de uma suposta traição é retratada, além de duas das filhas ganharem destaque no enredo – Patrícia Abravanel (Bárbara Maia) e Daniela Beyruti (Elisa Romero).
Daniela esconde na faculdade seu parentesco com o dono do SBT, e Patrícia tem um breve romance com um dos integrantes da boyband Ludo, agenciada por Gugu (Paulo Nigro) – equivalente ao que seriam os grupos Dominó e Polegar na vida real.
Os fatos principais que cercam as personagens são condensados no tempo, traindo o espectador apegado a datas, mas estão lá: o surgimento do Domingo Legal e seus momentos marcantes – Banheira do Gugu, a ereção de Jean-Claude Van Damme ao vivo dançando com Gretchen; a guerra dominical de audiência, com Faustão apelando para o Latininho e o sushi erótico; a falsa entrevista com integrantes do PCC, que manchou a credibilidade de Gugu, e sua saída do SBT para a Record (antecipada em dez anos).
Há também enredos fictícios, como a produção da novela “Cega de Paixão” pelo SBT em 1990, com a atriz mexicana Michelly Vega (Giselle Itié) usando tapa-olho (inspirada em Maria Rubio na novela “Ambição”, exibida pela emissora na mesma época, mas realizada pela Televisa). Íris aparece como autora, mas ela só passou a escrever tramas em 2008, com “Revelação”.
O sequestro de Patrícia e a posterior invasão do sequestrador Fernando Dutra Pinto (ótima composição de Johnnas Oliva) à mansão, são dois dos pontos altos desta temporada. Clima de tensão e duração na medida certa.
Silvio Santos está tão imerso em resolver questões que quase não se ouve sua gargalhada característica – e no palco aparece mais no “Show de Calouros”, provavelmente por conta de custos de produção e por ser uma atração que acompanhou boa parte de sua carreira.
Com um protagonista com a vida tão vasta, a série tem fôlego: um dos ganchos para a terceira temporada é a guerra com a Globo por conta da Casa dos Artistas – versão que Silvio resolveu criar após ler como seria o formato do Big Brother Brasil e que abalou a líder de audiência, com derrotas históricas. E que venha: o público fã de TV está ávido por mais.