Jonathan Pereira
Quem é aficionado pelo universo da televisão ou quem cresceu acompanhando a programação dominical vai gostar de assistir à série “O Rei da TV”, que conta a trajetória de Silvio Santos. Com o sucesso da primeira temporada de 8 episódios, o Star+ anunciou no dia 12 de dezembro – aniversário de 92 anos do apresentador – que a segunda temporada está confirmada.
A história do comunicador é contada em três fases, que vão se intercalando ao longo da produção: o ponto de partida é 1988, quando Silvio descobre um problema nas cordas vocais que pode afastá-lo definitivamente da televisão. Sua vida também é mostrada na juventude, quando morava no Rio de Janeiro e tornou-se camelô nas ruas, e nas décadas de 1950 a 1970, quando consolida sua carreira na televisão e resgata o Baú da Felicidade da falência.
Os três intérpretes estão muito bem: Guilherme Reis traz o brilho para vendas necessário ao jovem Silvio; Mariano Mattos incorpora a tal ponto o apresentador que conquista o espectador da série com o sorriso envolvente; José Rubens Chachá ganha chance de mostrar seu talento, fugindo da caricatura ao mesmo tempo que enxergamos Silvio ali.
O elenco, de forma geral, foi bem escalado. Leona Cavalli dá o tom de voz de Íris Abravanel; Roberta Gualda encarna as dores de Cidinha, primeira mulher de Silvio; Cacá Carvalho dá vida a Manuel de Nóbrega; Pascoal da Conceição está o próprio Roberto Marinho; e Celso Frateschi encarna Rossi (o Boni na vida real, vivido por João Campos na fase jovem).
O Gugu (1959-2019) composto por Paulo Nigro causa certo estranhamento, em parte por não imaginarmos o apresentador tendo determinadas atitudes. É como se víssemos apenas um ‘lado B’, em que Gugu almeja postos maiores e dá festas repletas de homens na piscina. Como o intérprete é primo de Afonso Nigro, que conviveu com o apresentador quando fez parte do grupo Dominó, pode ter trazido nuances que viu de perto na época, mas que o grande público não tinha acesso.
Críticas da família
A família Abravanel não gostou nada da desconstrução do ‘mito’ que a produção fez, mostrando um Senor Abravanel não tão perfeito quanto o que aparece aos domingos – como não ter assumido publicamente a primeira mulher, Cidinha (Roberta Gualda), para o público, dizendo que era uma amiga, e estar ausente de casa na fase terminal do câncer dela.
Daniela Beyruti, a ‘filha número 3’, foi às redes sociais reclamar. “Quem produziu isso? Com que intuito? História mal contada, tantas inverdades, personagem arrogante, um Silvio Santos que ninguém conhece, nem conheceu. Lamentável!”, disse, prometendo que o SBT fará uma versão da vida de seu dono.
Silvia Abravanel, que tem sua adoção retratada na história, também não gostou. “Tentei assistir também e me deu até medo. Dos personagens ao enredo, uma lástima! Realmente a impressão que dá é que foi de maldade, principalmente com a história do nosso pai, da nossa família. Nada ali condiz com o que meu pai, nossos familiares e amigos são. Muito mau gosto”, respondeu, no mesmo post.
Justiça seja feita, em nenhum momento o comunicador é vilanizado, apenas retratado como um ser humano que acerta e erra. Tirar essa aura de perfeição, mostrando um Silvio que se distancia da família em determinados momentos para se dedicar aos negócios ou que tem embates com Rossi (Boni) nos bastidores, quando ainda comprava seu horário na Globo, desagradou as filhas.
Personagens e momentos históricos
Fiéis escudeiros de Silvio – como o assistente de palco Roque (Claudio Marcio) – e jurados do Show de Calouros, como Sérgio Mallandro (Gui Santana) e Pedro de Lara (Ary França), estão presentes.
Personagens icônicas do SBT (como Vovó Mafalda e Velha Surda) conversam com Silvio durante seus sonhos pré-operatórios – o que dividiu opiniões sobre a necessidade ou exagero, mas ficou interessante e crível a forma de inserí-los na história, já que o dono da emissora trabalha tanto que até sonharia com seus funcionários.
Vale maratonar?
Assistir à “O Rei da TV” leva a um revival do que foi a TV aos domingos no Brasil durante décadas, e mostra que Silvio – hoje muito apontado como “puxa-saco” de quem estiver no poder – também passou por censura durante a Ditadura Militar, quando seu programa chegou a ser proibido de ser veiculado ao vivo.
Momentos importantes de bastidores – como se deu a conquista da concessão de TV junto ao então presidente João Figueiredo para o nascimento do SBT, a criação da “Semana do Presidente” que ia ao ar aos domingos e a quase ida de Gugu para a Globo – são mostrados. Os episódios passam sem enrolação, são curtos e gostosos de assistir. Fácil maratonar.
Como Silvio segue na ativa, há muito material para novas temporadas – a próxima deve focar na candidatura do apresentador à presidência da República, em 1989, e no sequestro da filha, Patrícia Abravanel, em 2001. Vale aguardar!