A interatividade ficará cada vez mais presente nos museus com o uso da realidade aumentada e essa é apenas uma das muitas possibilidades que o presente já oferece
Por Nathan Vieira
O advento da pandemia trouxe uma necessidade urgente de adaptação por parte de diversos setores, e isso incluiu a cultura, uma vez que o isolamento social mudou a realidade das exposições e dos espetáculos. Como as pessoas não podiam deixar suas casas, os teatros e museus precisavam encontrar um meio de não fechar as portas, e a aliada mais óbvia para lidar com esses desafios foi a tecnologia.
A artista plástica Edna Carla Stradioto conta que a maioria dos museus já vinha criando plataformas com recursos diversos: informações das obras em detalhe, zoom nas fotos, arquivos e documentações históricas, plantas com visitação 3D, e também as visitas digitais com visualização 360 graus. “Esses recursos foram importantes no começo da pandemia e muito divulgados pelas mídias sociais. Vimos o consumo da arte fluir com alternativas variadas de acesso”, relembra.
Na opinião da artista, a tecnologia tem sido uma ferramenta vital de democratização e acesso irrestrito. “No entanto, vivemos um momento paradoxal, uma crise de identidade mundial, muita dor emocional. Pessoas querendo correr o mundo e muitas outras enjauladas. A tecnologia pode e irá ajudar esse novo paradigma que está se construindo nesse novo mundo: liberdade de ser frequentado virtual ou fisicamente”, pontua Edna.
Relação entre museu e tecnologia
De relação entre historiografia e tecnologia, o Museu do Computador (localizado na Faculdade Impacta Tecnologia) entende. Breno Valle, curador do museu, aponta que muitos do nicho tentaram lidar com a pandemia através de lives via streaming para tentar vender ingressos. Houve uma tentativa de fazer lives diretamente de dentro do museu, mas a equipe não teve êxito por muito tempo devido ao fechamento total do local que estava localizada a exposição na pandemia.
Questionado sobre como a tecnologia pode transformar nossa relação com o museu e com a própria essência de exposições e historiografia, Bruno recorre à realidade virtual e à realidade aumentada.“Podemos visionar diversos tipos de revoluções dentro dos museus e até mesmo fora deles. A realidade aumentada já é usada nos celulares em diversos museus mundo afora e temos diversos exemplos de como usar essa tecnologia para interagir com as exposições. Já a realidade virtual que é muito mais imersiva irá revolucionar os museus de uma forma nunca antes vista”, opina o curador.
Conforme a estimativa de Bruno, a interatividade ficará cada vez mais presente nos museus com o uso da realidade aumentada via celular que é algo mais palpável para a realidade brasileira. Já a realidade virtual exige um esforço maior dos museus, já que literalmente é criado outro museu dentro de um espaço virtual e, portanto, o trabalho de curadoria, pesquisa, arquitetura etc. é trabalhoso e sem contar que a modelagem do acervo para o metaverso também é custosa.
No caso do Museu do Computador, um dos recursos que aproxima a tecnologia do público é através de programas de fotogrametria como RealityCapture, que apenas com uma filmagem com o uso do celular se pode criar modelos 3D com texturas que podem ser usados no metaverso facilitando o processo.
Enquanto isso, Bruna Baffa, Diretora Geral do Museu do Amanhã, conta que a pandemia levou a equipe a produzir mais de 100 horas de programação e uma tour virtual, o que chegou a render o prêmio de “Melhor Experiência Digital em Museus”, do LCD Awards.
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Segundo a diretora, as características originais dos museus precisam se transformar como o mundo se transforma. “A tecnologia é uma importante aliada para garantir experiências que façam com que o público se sinta parte do que está vendo, saindo de um lugar de passividade. Além dos recursos sensoriais e de interatividade, a tecnologia também desempenha uma importante função complementar no fornecimento de informações”, disserta.
Bruna reitera que é um papel dos museus fazer com que estes espaços sejam ocupados por cada vez mais pessoas. Para isso, é necessário que a preocupação comece de dentro para fora, a partir da formação de equipes multidisciplinares que contemplem a pluralidade de vivências e visões. “Os museus que pensam o futuro tornam-se grandes articuladores. E temos a certeza de que o amanhã será feito com cada vez mais acesso a espaços de cultura, ciência e informação de qualidade”, estima.
Museus no metaverso
Em agosto, o Museu do Computador foi reinaugurado com exposição no metaverso. Bruno conta que essa ideia veio no fim de 2019, quando a equipe optou por criar um metaverso em realidade virtual para o Museu do Computador.
“Com o tempo de desenvolvimento de dois anos criamos um espaço virtual onde podemos fazer uma visita monitorada mesmo para quem não tem os óculos de realidade virtual via streaming onde os visitantes assistem tudo que é feito na realidade virtual via tela do computador ou celular”, relata o curador.
Na opinião da equipe, a principal vantagem no momento é que podemos vender lives para o todo o país. A estimativa é que todos os museus do mundo passem a poder ser visitados dessa forma. “Imaginem a educação e a cultura sendo revolucionadas. Por exemplo, as escolas vão poder entrar em um metaverso onde a independência do Brasil foi proclamada e os alunos vão poder interagir com Dom Pedro I e até mesmo usar as mesmas armas que eles usavam e visitar diversos locais da época e descobrir de forma totalmente imersiva como eles viviam na época”, finaliza o especialista.