Redação Culturize-se
A exposição “Magic Echoes: Brazil Diasporas’ Vibrant Encounters with Ancestrality”, apresentada pela galeria M+B em Los Angeles, propõe um diálogo urgente sobre como a pintura contemporânea brasileira reconstrói memórias interrompidas pela violência colonial. Reunindo artistas como Amadeo Lorenzato, Gustavo Caboco, Lia D Castro e Thiago Molon, a mostra revela como a ancestralidade não é um resgate estático do passado, mas um processo dinâmico de reinvenção — onde o trauma colonial convive com a resistência criativa.
O Brasil, como projeto colonial, tentou forjar uma identidade única a partir do apagamento de suas múltiplas raízes. Povos indígenas e africanos, submetidos ao genocídio e à escravização, responderam com estratégias sutis de preservação cultural: a oralidade, os ritos, os gestos cotidianos. Essa resistência silenciosa ecoa nas obras da exposição, que recusam narrativas lineares e homogêneas. Como observa Jacques Rancière, a arte é o território onde se renegociam as promessas não cumpridas da história — e aqui, a pintura se torna um espaço de confronto e cura.
Artistas como Chen Kong Fang e Amadeo Lorenzato, ligados ao modernismo, dialogam com Lia D Castro e Hiram Latorre em composições que exploram o vazio como campo de significado. Seus trabalhos não representam a ancestralidade como um retorno nostálgico, mas como uma presença sutil e meditativa, onde silêncios falam mais que figuras. Já Thiago Molon, Gustavo Caboco e Lu Ferreira fragmentam ainda mais essa busca, usando cores vibrantes e texturas que desestabilizam qualquer noção fixa de origem. Caboco, de origem indígena, e Chico da Silva, com seu imaginário afro-brasileiro, mostram como a diáspora não é apenas perda, mas também recriação — uma colagem de tempos e tradições.

Em outro eixo, Mateus Moreira, Lucas Almeida e Luciano Maia trabalham com mitos e subjetividades diluídas, onde a melancolia e o experimentalismo abrem caminhos para identidades fluídas. Moreira, por exemplo, pinta corpos que se dissolvem em paisagens, sugerindo que o pertencimento diaspórico é um lugar de trânsito, não de raízes fixas.
A lua surge como metáfora central nessa jornada. Presente em culturas africanas e indígenas como guia de migrações, ela simboliza a ancestralidade como um reflexo mutante — sempre visível, mas nunca totalmente apreensível. Nas obras da exposição, sua luz indireta ilumina não um passado cristalizado, mas um futuro em constante reformulação.
“Ecos Mágicos” não oferece respostas fáceis. Em vez disso, celebra a potência da pintura como linguagem capaz de articular ausências e ressurgimentos. Se a diáspora é, por definição, um deslocamento forçado, a arte aqui se torna o veículo para um deslocamento voluntário. Como escreveu o poeta africano Ben Okri, “o futuro pertence àqueles que dão voz aos sonhos mais antigos” — e esses artistas fazem exatamente isso, transformando tinta em memória viva.